Lugo recorrerá a tribunais internacionais, mas acha “difícil” voltar ao poder

O ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo anunciou nesta quarta-feira, em entrevista à Agência Efe, que vai apresentar recursos internacionais contra o julgamento político que o afastou do cargo no último dia 22, mas admitiu que acha “muito difícil” retornar ao poder nas atuais condições.

Tranquilo e sorridente, o ex-bispo do departamento (estado) de San Pedro disse que “a última palavra não está dita”, e que um de seus últimos recursos será “brigar” no exterior.

“Vamos processar pelo que ocorreu na última sexta-feira, se for possível, na justiça internacional”, anunciou Lugo na sede do partido País Solidario, da Frente Guasu, coalizão minoritária esquerdista que ainda o apoia.

Cercado por seus colaboradores mais próximos, muitos deles ex-ministros que o acompanharam até sua repentina saída do poder, o ex-chefe de Estado antecipou também que jamais esperou não completar sua gestão nem o momento ou a forma como ela terminou.

Sucedido no dia 22 por seu vice-presidente, Federico Franco, do Partido Liberal, e após ser considerado “culpado” de mau desempenho em suas funções, Lugo admitiu ter sentido mais próxima essa possibilidade de fim prematuro de seu mandato de cinco anos, iniciado em 2008, quando “a classe política considerou” que ele “não levava em conta os partidos”, mas “queria governar somente com os grupos sociais, os sem-terra, os operários”.

O ex-bispo, que há quatro anos rompeu com 61 anos de hegemonia do Partido Colorado após se aliar ao Partido Liberal, lembrou que é “a primeira vez que (essas duas legendas) se unem com o objetivo comum de depor o presidente constitucionalmente eleito”.

Na entrevista à Efe, Lugo se mostrou contra o fato de o Mercosul, bloco que seu país integra com Brasil, Argentina e Uruguai, imponha sanções econômicas ao Paraguai na cúpula que será realizada nesta sexta-feira na cidade argentina de Mendoza para analisar a crise.

Também em Mendoza e no mesmo dia, acontecerá uma cúpula extraordinária da União de Nações Sul-americanas (Unasul) para debater o mesmo caso.

Por outro lado, Lugo se mostrou a favor de a classe política de seu país receber “um chamado de atenção” da comunidade internacional.

“Algo têm que ser feito”, advertiu o ex-mandatário, que no entanto acha “muito difícil” voltar à presidência, e destaca que esse não é o objetivo das mobilizações pacíficas que ele estimulou desde o começo da semana.

As manifestações têm como objetivo fazer com “que o povo demonstre seu descontentamento”, por ter “o direito a se manifestar, a demonstrar sua indignação e dizer que não está de acordo com o que aconteceu na semana passada”.

Além disso, o ex-presidente disse que os membros da missão anunciada na terça-feira ao país pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e que ela será realizada depois da reunião em Mendoza “tem que escutar todos os setores” paraguaios e também sua versão.

Sem abandonar seu habitual tom conciliador, apesar da difícil situação na qual se encontra, Lugo defendeu a postura assumida no processo pelas Forças Armadas, “uma das instituições mais críveis do país”.

“São as que mais se adaptaram ao processo democrático paraguaio e sempre atuaram institucionalmente. Têm uma grande maturidade e sua reação institucional é digna de admiração”, declarou.

Além disso, ele defendeu a atuação da Igreja Católica, da qual se desvinculou para fazer carreira política. “Eles interpretaram que o melhor que podiam fazer era dar apoio ao presidente que assumiu no sábado passado”, observou.

Consultado sobre as versões que o acusam de ter sido muito “brando” com seus oponentes, respondeu: “não sei se brando, mas Fernando Lugo nunca confrontou quando o confronto podia levar à polarização da sociedade”.

Por último, para reforçar sua aparente hesitação na luta para retornar à Presidência, o político admitiu que analisa a possibilidade de participar da disputa ao Senado pela Frente Guasu nas eleições de 2013, porque nestes momentos é um “cidadão ativo” e pode aspirar a esse cargo.

Se tivesse terminado seu mandato presidencial, Lugo teria se transformado em senador vitalício, como diz a Constituição paraguaia, que impede a reeleição e a antecipação de eleições.

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