JOÃO ILTAUMYR MILANO (in memoriam)

Conheci o Dr. João Iltaumyr Milano, o Dr. Milano, como era chamado pelos seus pacientes e amigos, quando eu era estudante de Direito, nesta Capital, provavelmente 1960, recomendado pelo acadêmico de medicina, e seu assistente, Dr. Itiro Nishimura, estando eu, na ocasião, adoentado. Ele, Milano, atendia, no edifício Pugsley, à noite, na Rua Monsenhor Celso, esquina com a Rua Marechal Deodoro.

Eu, muito jovem, inexperiente, que viera do interior do Estado, como tantos outros, para estudar, lutava com muitas dificuldades e me ressentia da distância da minha terra, Cambará, onde residiam meus pais, e, como todo jovem, necessitava de um orientador, uma pessoa amiga e sincera. Ao fazer a minha primeira consulta, com o também jovem Dr. Milano, fui tratado com todo carinho e com toda a atenção que um bom médico dedica ao seu cliente, mas muito mais do que isso, encontrei em sua pessoa, alegre e dinâmica, um excelente amigo, que guardei para o resto da minha vida.

Diz o cantor Milton Nascimento, na sua bela Canção da América: ?Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração?. Quando se encontra na vida, ainda no alvorecer da vida, um amigo do porte do Dr. Milano, é o caso mesmo de se guardar com sete chaves dentro do coração, pois uma amizade deste quilate é um tesouro que não se pode prescindir. O Dr. Milano foi para mim o segundo pai. O pai que encontrei em Curitiba, e era com ele que me aconselhava, não somente nos assuntos da medicina, quando necessitava, mas também nas minhas dificuldades cotidianas, nas minhas dúvidas, pois dele recebi os mais sábios conselhos, que muito me ajudaram na vida.

Interessante, que o indiquei para vários amigos, que se tornaram seus clientes fiéis, ao longo do tempo, assim como também minha esposa e filhos passaram a ser seus pacientes e amigos, nele depositando sempre confiança absoluta. Tanto é que, na minha família, sempre nos aconselhávamos com ele, nos momentos decisivos, como, por exemplo, quando alguém havia de fazer uma cirurgia. Aquelas que ele não podia fazer pessoalmente, sempre indicava outro profissional competente e de confiança para realizá-la e nunca nos decepcionamos com suas indicações.

Lembro-me de quase todas as fases da sua vida. Quando se casou com a prestimosa senhora Milva Schruber, com a qual teve os filhos Márcia S. Milano Centa, Carmen S. Milano, João Luiz S. Milano e Luis Rodrigo S. Milano.

Recordo-me da sua luta ingente, quando construiu a primeira fase do Hospital Nossa Senhora do Pilar, na Rua Hugo Simas, do seu sacrifício, das suas madrugadas para operar, pois era um exímio cirurgião. Lembro-me das suas longas horas de atendimento aos clientes, da sua sempre abarrotada sala de espera no consultório, na mesma rua citada, quando dedicava especial atenção a todos, não se preocupando com o tempo gasto em cada consulta, pois era médico consciente e dedicado, que fazia jus ao compromisso que assumiu quando de sua formatura. E, muito mais, ainda me lembro que não era mercenário, pois fazia questão de cobrar o preço que entendia justo pelas suas consultas, nunca exorbitando, ao contrário do que muitos faziam e, ainda hoje, o fazem, exagerando em seus valores, nem sempre merecidos.

Recordo-me quando, com a ajuda da sua valorosa Milva, a quem amava extremadamente, construiu a segunda fase do hospital, que se tornou um dos melhores e mais eficientes de nossa Capital. O Hospital Nossa Senhora do Pilar tornou-se um marco, uma referência no populoso bairro Pilarzinho, que se valorizou, com sua presença.

O Dr. Milano tornou-se conhecidíssimo e respeitado, importante ?Médico de Família? nesta Capital, bem como em todo o Estado do Paraná. Pelos relevantes serviços que prestou na área médica, deixou um verdadeiro exército de amigos e admiradores da sua pessoa, por tantos benefícios que a todos prestou. Seu passamento, recente, causou tristeza para mim e para muitos que com ele conviveram e deixa um vazio, que dificilmente será preenchido. Vou sentir falta daquele amigo que, quando eu, ou outra pessoa da minha família estávamos internados em seu hospital, chegava ele em seu leito, com aquele sorriso simpático, com aquela palavra amiga e fraterna, que nos instilava uma sólida confiança.

Somente tomando conhecimento de sua morte pelo jornal, quando já sepultado, restou-me ir à sua missa de Sétimo Dia, na Igreja de Santa Maria Goretti, no bairro Pilarzinho, no dia 2 de dezembro, onde numa belíssima e comovente missa recebeu uma linda homenagem, com a presença de muitos amigos e admiradores que ali compareceram.

Na ocasião em que publiquei meu livro de poesia Alma Nua, em agosto de 2001, dediquei-lhe a obra, como preito da minha amizade e gratidão. No livro, na página 125, publiquei o acróstico: ?DR. MILANO?, que transcrevo a seguir:

Agradecido, mandou emoldurar o poema e colocou-o na parede junto à sua mesa de trabalho no consultório, o que muito me sensibilizou.

Guardarei na memória este grande amigo, com sete chaves, dentro do meu coração, para sempre e eternamente grato por todo o bem que me fez nesta existência, desejando que, onde ele estiver, tenha muita paz, a mesma que irradia aqui na terra.

(O autor é poeta, escritor, desembargador, atual 2.º vice-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná e membro da Academia Paranaense de Letras).

J á passado o tempo intensamente

O amigo surgiu em nossa vida

(T) Ão importante sua presença

O ntem e ainda agora no presente

I ncansável no trabalho e no ideal

L egou-nos uma obra meritória

T em sido de muitos a esperança

A lcançando sobre a dor a vitória

U m luminar do bem sobre o mal

M ilano, Dr. Milano, o grande médico

I rmão amigo de todas as horas

R adiante alma benfazeja, neste mundo.

M uitos o conheceram e nele acharam

I ncrível socorro nas horas incertas

L á no bairro Pilarzinho, sempre

A tendendo no seu acolhedor consultório

N a Avenida Hugo Simas

O u no Hospital Nossa Senhora do Pilar.

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