Igreja da Cientologia é culpada por fraude na França

A filial francesa da Igreja da Cientologia foi considerada culpada por uma corte de Paris por fraude organizada para pressionar os membros a pagar grandes somas, em troca de duvidosos lucros financeiros. A instituição foi multada em 400 mil euros (US$ 600 mil), mas não recebeu uma ordem de dissolução que havia sido solicitada pelos promotores. O grupo anunciou que vai apelar da sentença.

O tribunal condenou o escritório da Igreja da Cientologia na França, sua biblioteca e seis de seus líderes. A biblioteca recebeu multa de 200 mil euros. Quatro dos líderes receberam sentenças de prisão com sursis (suspensão condicional da pena) de 10 meses a dois anos. Os outros dois dirigentes foram multados em valores entre 1 mil e 2 mil euros. A corte não decidiu pela proibição do grupo, mas advertiu que isso pode ocorrer caso a igreja continue operando “fora do marco legal”. Os promotores haviam pedido, além do fim do grupo na França, uma multa de 2 milhões de euros.

O veredicto é “uma inquisição dos tempos modernos”, disse a porta-voz da igreja, Agnes Bron, ao se referir à caça aos hereges realizada pela Igreja Católica séculos atrás. O advogado de defesa Patrick Maisonneuve afirmou durante o julgamento que nem a Igreja da Cientologia nem os seis líderes processados obtiveram ganhos financeiros com as práticas do grupo. Já a líder de uma associação que ajuda vítimas de seitas, Catherine Picard, considerou a sentença “inteligente”. “A Cientologia não pode mais se esconder atrás a liberdade de consciência”, afirmou.

Sediada em Los Angeles, a Igreja da Cientologia foi fundada em 1954 pelo escritor de ficção científica L. Ron Hubbard. Ela atua na Europa há décadas, mas luta para conquistar o status de religião. Na França, a Cientologia é considerada uma seita e tem enfrentado processos e dificuldades para registrar suas atividades em muitos países.

A queixa original do caso foi feita mais de uma década atrás, quando uma jovem disse ter feito empréstimos e ter gasto o equivalente a 21 mil euros em livros, cursos e “pacotes de purificação” após ter sido recrutada pelo grupo em 1998. Seu pedido de indenização, feito quanto ela decidiu deixar o grupo, foi recusado pelos dirigentes. Ela é uma das três pessoas que processaram a igreja.

‘Obsessão’

Olivier Morice, advogado de acusação, disse que a sentença foi “histórica” porque foi a primeira vez na França que a Igreja da Cientologia foi condenada por fraude organizada. O juiz investigativo Jean-Christophe Hullin passou anos examinando as atividades do grupo e, em sua denúncia, criticou o que chamou de “obsessão” dos cientoligistas por ganhos financeiros e práticas que, segundo ele, tem como objetivo colocar os membros em um “estado de sujeição”.

Os ensinamentos da Igreja da Cientologia afirmam que a tecnologia pode expandir a mente e ajudar a resolver problemas. O grupo afirma ter 10 milhões de integrantes em todo o mundo, dentre eles celebridades como Tom Cruise e John Travolta. A Bélgica, a Alemanha e outros países europeus foram criticados pelo Departamento de Estado norte-americano por considerar a Cientologia como um culto ou uma seita e por promulgar leis que restringem suas operações.

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