Honduras deve decidir hoje se Zelaya volta ao poder

Ponto mais delicado da crise política em Honduras, a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya deve ser debatida hoje, quando representantes do líder deposto e do governo de facto de Roberto Micheletti se reunirem para dar continuidade ao diálogo. A “negociação de Guaymuras”, como foi batizada a discussão entre os opositores hondurenhos, havia sido iniciada na sexta-feira. Se confirmada a volta ao poder, Zelaya deixaria a embaixada do Brasil, o isolamento internacional imposto a Honduras seria levantado e se abriria o caminho para as eleições presidenciais de novembro. Caso contrário, o desfecho dos 108 dias de crise em Honduras se tornará ainda mais incerto.

No último encontro, a negociadora do governo de facto Vilma Morales havia anunciado um avanço em 60% nos termos do Pacto de San José, que serve de base para as negociações. A evolução foi confirmada pelo campo zelaysta. Formulada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, a proposta tem ao todo 12 pontos, dos quais oito tocam temas fundamentais e quatro dizem respeito a questões procedimentais.

Os dois lados já admitem ter entrado em acordo sobre a necessidade de formar um governo temporário de união nacional e de não promover uma anistia geral. Zelaya responde por 18 acusações criminais, mas diz não temer a Justiça. A revogação da anistia também poderá abarcar crimes cometidos pelo governo de facto desde o golpe de Estado, em 28 de junho.

Ontem, Zelaya disse a jornalistas na embaixada brasileira que há uma “pressão” para que Juan Barahona, representante da Frente Nacional de Resistência (FNR), a ala mais radical de sua base de apoio, seja afastado da mesa de negociação. Momentos antes do anúncio, Barahona dissera ao jornal O Estado de S. Paulo que não abriria mão da convocação de uma Assembleia Constituinte, prometida por Zelaya, e tampouco admitiria a realização de eleições em novembro. “Temos três princípios irrevogáveis: restituição imediata, Constituinte já e não às eleições com golpistas no poder.”