Guerra preocupa arqueólogos

Engenheiro Coelho, SP (Abrajor) – No Iraque, há centenas de sítios arqueológicos conectados a várias universidades da América do Norte e Europa. Uma das maiores preocupações dos pesquisadores e do governo iraquiano, nesse período de guerra, relaciona-se à preservação dos locais de escavação. Boa parte dos especialistas em História Antiga acredita que os estragos do conflito prejudicarão a continuidade dos trabalhos nas próximas duas décadas.

Segundo o doutor Rubén Aguilar, professor de Arqueologia do curso de Teologia do Unasp, os iraquianos consideram um tremendo crime a destruição desses sítios. A própria história da origem da civilização moderna ficará comprometida caso seja vetado às universidades qualquer acesso aos centros de pesquisa. Rodrigo Pereira da Silva, especialista em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e curador do Museu Dr. Paulo Bork do Unasp, considera imprevisível as conseqüências da guerra, achando que muitos locais já foram destruídos nas últimas semanas.

Durante sua Oficina de Arqueologia, Aguilar apresentou o histórico das escavações, citando algumas das descobertas mais importantes. Em 1870, o arqueólogo inglês George Smith encontrou a descrição do dilúvio bíblico em tabletes na escrita cuneiforme. O jornal londrino Daily Telegraph ofereceu mil libras esterlinas àquele que conseguisse traduzi-los. Smith levou cinco anos para desvendar o segredo, conquistando o merecido prêmio, cujo resultado originou o livro “Relatos Caldeus do Gênesis”, onde aborda a criação do mundo e o dilúvio.

Semelhanças

O relato da Criação se apresenta em sete tijolos de argila. Trata-se de “impressionante semelhança entre os tabletes mesopotâmicos e a Bíblia”, enfatiza Aguilar. O material descreve o caos no céu; a criação da luz, do firmamento, da terra, dos astros, do homem e o “descanso dos deuses”, reunidos no documento conhecido como “Enuma Elish”.

A “Epopéia de Gilgamesh”, coleção de 11 tijolos, detalha a catástrofe diluviana, em uma incrível semelhança com a Bíblia. Os pormenores do fato narram a chuva como “cascatas do céu”, cujas conseqüências provocaram “medo nos ?deuses?, fazendo-os fugir como cães feridos”. A destruição do planeta acontece porque os ?deuses? resolveram dar um fim no homem “devido à corrupção”.

Aguilar explica que a tradição oral de muitos povos da antiguidade corroborou com diferentes histórias de um mesmo contexto. Assim, ele acredita que esses documentos arqueológicos reforçam a veracidade bíblica dos livros do Pentateuco escritos por Moisés, equivalentes à Torá hebraica.

Exemplificando essas distinções, Aguilar citou o caso da tribo amazônica Separê-Maués, cuja crença mais importante refere-se à espera de um “deus” que promete “voltar e levá-los para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”, demonstrando extraordinária semelhança com o terceiro verso do capítulo 14 do evangelista João.

A fim de preservar as ruínas de antigas cidades, como Nínive e Babilônia, Aguilar torce para os norte-americanos e britânicos não devastarem os sítios, “porque estes têm grande valor para a humanidade”.

Ruben Holdorf é diretor da Agência Brasileira de Jornalismo, professor do curso de Comunicação Social do Unasp e mestrando em Educação.

E-mail:

dargan_holdorf@hotmail.com.

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