Fidel afirma que Obama ‘interpretou mal’ Raúl

O ex-líder cubano Fidel Castro disse que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, “interpretou mal” as palavras do atual presidente de Cuba, Raúl Castro. Foi por essa má compreensão, sustentou Fidel, que Obama sugeriu a Cuba a libertação de dissidentes e a eliminação de encargos para o envio de remessas. “Sem dúvida que o presidente (Obama) interpretou mal a declaração de Raúl”, escreveu Fidel em uma de suas colunas opinativas, intituladas “Reflexões”. O texto foi divulgado ontem.

Fidel aludiu às declarações dadas por Raúl Castro na sexta-feira passada, durante a Cúpula da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), dizendo estar disposto a discutir “todos” os temas com os Estados Unidos, incluindo “direitos humanos, liberdade de imprensa, presos políticos”. Raúl disse que isso deve ocorrer em igualdade de condições, sem imposições. O presidente cubano disse também ser possível enviar aos EUA os dissidentes detidos em 2003, caso em troca Washington entregue a Havana os cinco agentes de inteligência cubanos condenados no país.

No fim de semana, em Trinidad e Tobago, durante a Cúpula das Américas, Obama considerou “um avanço” as palavras de Raúl e sugeriu que Cuba comece por liberar presos políticos e reduza os impostos sobre remessas. “Ao afirmar o presidente de Cuba que está disposto a discutir qualquer tema com o presidente dos Estados Unidos, expressa que não teme abordar qualquer tipo de assunto. É uma mostra de valentia e confiança nos princípios da Revolução”, afirmou Fidel.

“Ninguém deve se assombrar de que falasse de indultar aos sancionados em março de 2003 e enviá-los todos aos Estados Unidos, se esse país estivesse disposto a liberar os cinco heróis antiterroristas cubanos. Aqueles, como já ocorreu com os mercenários em Girón, estão ao serviço de uma potência estrangeira que ameaça e bloqueia a nossa pátria”, acrescentou Fidel. O ex-líder se referiu à invasão da Baía dos Porcos, também conhecida como Praia Girón, em 1961, quando dissidentes apoiados pelos EUA tentaram realizar uma contrarrevolução na ilha, sem sucesso.

O ex-governante também defendeu a cobrança de um imposto sobre o dólar e seu impacto no envio das remessas, indicando que todos os países impõem comissões sobre a transferência de divisas. “Se são dólares, com mais razão devemos fazê-lo, porque é a moeda do Estado que nos bloqueia. Nem todos os cubanos têm familiares no exterior que enviem remessas. Redistribuir uma parte relativamente pequena em benefícios aos mais necessitados de alimentos, medicamentos e outros bens é absolutamente justo”, afirmou.

Ainda que tenha demonstrado admiração por Obama, Fidel indicou que nessa ocasião o novo titular da Casa Branca “deu mostras de autossuficiência” e “superficialidade”, especialmente ao argumentar sobre as razões de não levantar o embargo à ilha. Cuba deixa de receber milhões de dólares anualmente e vê limitado seu comércio e desenvolvimento pelas sanções impostas pelos Estados Unidos em 1962. Washington argumenta que é uma forma de pressionar por uma mudança no regime comunista da ilha. Apesar das ressalvas, as palavras de Raúl Castro e Obama foram consideradas por observadores e outros líderes como um sinal de distensão bilateral.

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