EUA mudam estratégia para missão no Afeganistão

Em reuniões com o presidente Barack Obama, a alta cúpula do Pentágono vem alertando para a necessidade de uma mudança de rota no Afeganistão. Os militares mais graduados devem apresentar em breve um relatório dizendo que a estratégia no país deve se concentrar em assegurar estabilidade regional e eliminar santuários da Al-Qaeda no Paquistão, em vez de construir uma democracia sólida e uma economia próspera no Afeganistão. Há o medo entre analistas de que a presença americana em território afegão se transforme no Vietnã de Obama, no qual será impossível “vencer”.

“O governo está se adaptando à realidade de que será muito difícil conseguir ajuda dos europeus para qualquer coisa, principalmente para operações militares, então eles estão adaptando a missão no Afeganistão e reduzindo as ambições”, disse um funcionário do Departamento de Estado. Obama deve anunciar em breve quantos soldados adicionais serão enviados para o Afeganistão, onde já há cerca de 30 mil soldados dos EUA. O objetivo é dobrar esse número.

No entanto, a “escalada de tropas” – estratégia que funcionou no Iraque – não é uma panaceia, dizem analistas. Embora o Pentágono vá seguir a abordagem de se aliar a parte dos insurgentes como forma de dividir o inimigo, da mesma maneira que fez no Iraque, isso pode significar se aliar a facções mais moderadas do Taleban para isolar a Al-Qaeda. Negociar com o Taleban e ignorar as violações do grupo, porém, é uma estratégia difícil de engolir para uma parcela do governo.

O secretário da Defesa, Robert Gates, vem alertando para o perigo de os EUA se enterrarem em uma guerra sem fim no Afeganistão – e para a necessidade de definir de forma bastante estreita o objetivo da presença americana no país. “Precisamos ter muito cuidado ao definir nossos objetivos no Afeganistão”, disse Gates, na semana passada. “Se tivermos o objetivo de criar uma espécie de paraíso lá, vamos perder, porque ninguém no mundo tem tempo, paciência ou dinheiro para conseguir isso.”

O Afeganistão está vivendo a situação mais grave desde 2001, segundo relatório semestral do Pentágono encaminhado anteontem ao Congresso. A ONU aponta que houve mais de 2,1 mil civis mortos no país em 2008, diante de 1.523 em 2007 – uma alta de 40%.