Esta literatura começou há 149 anos

Estima-se que a literatura genuinamente espírita componha-se de cerca de 3.000 títulos, escritos por autores encarnados e desencarnados, sendo que, destes, muitos o fizeram quando ainda no plano físico e outros tantos ditaram seus textos após a morte do corpo físico através da mediunidade. Somente Chico Xavier que, se ainda vivo, teria completado, no dia 2 próximo passado, 96 anos de idade, psicografou 412 obras de mais de 600 autores diferentes e que venderam algo em torno de 20 milhões de exemplares. O orador baiano Divaldo Pereira Franco está perto dos 200 títulos e cinco milhões de exemplares comercializados. E até este obscuro articulista, vejam só, contribuiu com dois títulos, um deles lançado agora na 19.ª Bienal de São Paulo, onde se pôde testemunhar toda a pujança deste gênero literário quando se viu a presença de duas dezenas de expositores, muitos autores autografando seus livros e, obviamente, muita gente comprando.

Aqui em Curitiba são duas livrarias – Ponto de Luz e Mundo Espírita -, além do Clube do Livro Espírita de Curitiba e outras trinta e tantas livrarias que atendem aos freqüentadores dos denominados Centros Espíritas, informação esta longe da intenção de abusar do espaço ou da tolerância de nosso leitor, para servir apenas pelo que são: informações.

Quanto a nós, nas breves citações que aqui fazemos, temos optado pelo O Livro dos Espíritos, por ser não só a primeira como a mais importante e completa obra do espiritismo. Não lhe conferimos o caráter de sacralidade ou infalibilidade. Publicado em 1857 pelo trabalho conjunto de personalidades de alta estirpe moral e intelectual, que espontaneamente tomaram a iniciativa de se comunicar através de mais de dez médiuns e da criteriosa análise do ilustre pedagogo francês Hippolyte Leon Denizard de Rivail, avançou tanto quanto a época permitia na filosofia, na ciência e no aspecto que até hoje se discute se se constitui também uma religião ou trata-se apenas de extrair destes estudos suas conseqüências éticas e morais.

Na literatura espírita encontramos gêneros diversos. As chamadas Obras Básicas compostas pelos cinco principais títulos publicados pelo próprio Allan Kardec, incluindo além do já citado há pouco, o Evangelho segundo o espiritismo, O livro dos médiuns, O céu e o inferno e A gênese. Alguns outros complementam o legado kardequiano, de onde destacamos Obras póstumas e a Revista Espírita, lançada em janeiro de 1858 e que circulou no formato inicial até a morte de seu idealizador, em março de 1869.

Periódico mensal, atualmente é editada em volumes que comportam os respectivos números de cada ano e exibe toda a riqueza do trabalho de Kardec. Contém ensaios, reproduções de diálogos travados com as almas dos mortos na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas ou enviados por correspondentes em várias partes do mundo; resenhas literárias espiritualistas, matérias publicadas na imprensa leiga, etc. Muito deste conteúdo, fruto da experimentação, da pesquisa e análise no verdadeiro laboratório de pesquisas psíquicas em que se tornou a Sociedade, foi transposto para os livros básicos.

Depois temos as chamadas obras complementares, principalmente de autores como Léon Denis, Gabriel Dellane, Ernesto Bozzano, Alexander Aksakoff, Cesare Lombroso e outros. Se os livros que já tratavam de temas como vida após a morte, reencarnação e fenômenos mediúnicos já eram escritos antes da Codificação Espírita, recebiam outras classificações, depois dela, nunca mais se deixou de se publicar outros que então puderam ser rotulados de espíritas.

Hoje o que se tem é uma certa dificuldade para se fazer a separação entre o que é realmente espírita, aquilo que atende os critérios de fidelidade doutrinária, de tantos outros que com oportunismo comercial utilizam-se da mesma denominação indevidamente. Esotéricos, de auto-ajuda, espiritualistas e até mediúnicos porque esta faculdade é universal, não tendo o Espiritismo exclusividade sobre sua prática, estando, às vezes, seu conteúdo muito distante dos princípios que o caracterizam.

Dos gêneros propriamente ditos, temos romances (mediúnicos ou não), contos, infantis, científicos, filosóficos, de mensagens, biográficos, etc. Os mais vendidos, disparado, são os romances. Devido ao grande número colocado no mercado, podem se tornar um tanto quanto repetitivos, mas a qualidade geral vem aumentando muito. Atende mais às necessidades de simpatizantes que professam outros credos, mas admiram a beleza de seus ensinamentos, especialmente os enredos envolvendo o amor, o perdão, a caridade, o consolo diante do sofrimento e os painéis sobre a vida no outro mundo.

Mas profitentes há que por mais que estudem e leiam outras obras mais substanciosas, jamais deixam de ler também os romances. Sempre há algo a aprender com eles. Como com todos os outros, se possível fosse acompanhar a quantidade de lançamentos que chega às livrarias.

Porém, uma coisa precisa ficar bem clara. Acima de qualquer outro está O Livro dos Espíritos que, nesta terça-feira, 18 de abril, completa 149 anos de sua primeira edição. Sem ele dificilmente alguém poderá galgar os degraus do conhecimento espírita. Apesar da mudança dos costumes sociais e avanços tecnológicos e científicos, pouca coisa nele deixou de ser atual, justamente porque trata principalmente da compreensão do ser humano diante do universo.

Nesta obra encontram-se os alicerces do grande edifício espírita. Tanto é verdade que, embora se costume dizer que nele predominam as especulações filosóficas, de seus desdobramentos surgiram os outros quatro livros anteriormente citados, ampliando o alcance do científico e do religioso ou moral, como se prefira.

A necessidade do estudo contínuo e disciplinado acompanha o espírita sempre, porém O Livro dos Espíritos jamais poderá se relegado a segundo plano. Isto traz uma conseqüência para todos aqueles que eventualmente desejem escrever ou falar, bem ou mal, do Espiritismo.

Afora a liberdade de opinião que deve ser respeitada, sua autoridade deve basear-se no conhecimento integral da obra referida. Somente quem o tenha não apenas folheado, mas lido, estudado e refletido demoradamente, com isenção de ânimo, com humildade para aprender e sem preconceitos, estará gabaritado a discutir seus conteúdos.

Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná.

E-mail: adepr@adepr.com.br 

Voltar ao topo