Cúpula ibero-americana começa sob efeito WikiLeaks

A 20ª Cúpula Ibero-americana foi aberta hoje em Mar del Plata, na Argentina, com a ausência de vários líderes e sob o impacto das revelações dos telegramas diplomáticos norte-americanos pelo website WikiLeaks. O presidente do Equador, Rafael Correa, acusou os Estados Unidos de tentarem exercer uma “manipulação desleal” sobre seus vizinhos latino-americanos. O primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, não compareceu à cúpula, alegando problemas internos – o governo espanhol anunciou hoje um pacote econômico para reduzir o déficit público. O presidente da Venezuela Hugo Chávez também não foi a Mar del Plata, bem como seu congênere boliviano, Evo Morales.

O primeiro mandatário a se referir ao vazamento dos documentos secretos foi Correa. “Revela-se um pouco a visão dos EUA sobre seus vizinhos, algo que todos presumíamos”, afirmou o mandatário. Correa afirmou que os EUA tentam exercer uma “manipulação desleal” sobre seus vizinhos latino-americanos. “Chega dessas coisas, basta de interferir na nossa soberania e de trair a confiança dos países que consideram os Estados Unidos um país amigo”, disse o mandatário equatoriano.

A ausência de Chávez, pelo terceiro ano consecutivo – desde o famoso “Por qué no te callas?” que lhe espetou o rei da Espanha em 2007 – foi justificada pelas fortes chuvas que castigam a Venezuela. Evo cancelou a participação alegando uma pequena cirurgia, mas sua ausência foi informada logo após o WikiLeaks publicar um documento em que diplomatas americanos afirmavam que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, se mostrava disposta a colaborar com os EUA na Bolívia. A Bolívia está com relações diplomáticas estremecidas com os EUA.

Chávez desistiu de comparecer à cúpula um dia após o WikiLeaks revelar um documento americano no qual o presidente do México, Felipe Calderón, acusava o mandatário venezuelano de se intrometer nas eleições de outros países da América Latina. Segundo o texto, que reproduz o diálogo entre Calderón e o diretor da inteligência nacional dos EUA, Dennis Blair, o líder mexicano também disse que “existe um vínculo entre Irã, Venezuela, drogas e narcotráfico”.

Zapatero mandou a chanceler espanhola Trinidad Jiménez a Mar del Plata. Ela minimizou a publicação dos documentos diplomáticos dos EUA pelo WikiLeaks. “Francamente, quero tirar esse valor extraordinário que possam ter (as opiniões), são impressões subjetivas”, disse. Em um dos telegramas diplomáticos enviados pela Embaixada dos EUA em Madri ao Departamento de Estado, o secretário-geral da presidência do governo espanhol, Bernardino León, se queixa a um interlocutor americano sobre a inquietude das empresas espanholas na Argentina, provocada pelo “tom populista”, a polarização política e o alto nível de corrupção do governo argentino. As informações são da Associated Press.

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