Cães vira-latas estão sempre na moda

Enquanto algumas pessoas apreciam cães e gatos de raças específicas, outras são fãs declaradas dos animais classificados como SRD ou RI (sem raça definida ou raça indefinida), popularmente chamados vira-latas. A denominação vem do fato de que muitos bichos mestiços e sem dono andam pelas ruas virando latas de lixo em busca de comida.

Devido à ausência de cruzamentos consangüíneos, os vira-latas geralmente são mais resistentes a doenças e, por isso, considerados mais fáceis de criar. Segundo o médico veterinário Jaime Luiz Trevisan Ribeiro, responsável pela Clínica Pedigree, em Curitiba, o não cruzamento entre indivíduos da mesma linhagem faz com que os SRDs tenham menor pré-disposição a determinadas anomalias (como problemas de dentição e pelagem) e patologias indesejáveis (como displasia coxofemural e certos tipos de alergia), consideradas comuns entre alguns animais de raça.

?A maior resistência, porém, não é motivo para que os proprietários deixem de tomar alguns cuidados com o animal. Um cão ou gato vira-lata precisa receber as mesmas doses de vacina, ser castrado (caso não se desejem filhotes) e ter as mesmas condições de higiene desatinadas aos bichos de raça. Apesar de normalmente serem mais fortes, eles podem ficar doentes e necessitam de atenção especial?, explica. ?Alguns animais sem raça de pêlo longo também podem precisar ser levados para banho, tosa e escovação periódica?, da mesma forma que cães schnauzers e gatos persas, por exemplo.

Uma alegação freqüente de pessoas que se recusam a ter em casa vira-latas é a de que, quando se adota o animal ainda filhote, não se pode saber ao certo o tamanho que ele vai ficar e o temperamento que vai ter depois de adulto. O médico diz que a alegação não deixa de ser verdadeira. Porém, também é comum as pessoas adquirirem poodles achando que eles vão permanecer pequenos e eles crescerem muito mais do que o esperado ou desejado.

?Com os gatos geralmente não há tanto problema. Com os cães, a realização de uma avaliação clínica veterinária geral pode ajudar bastante, sendo que por algumas características da cabeça e das patas do animal é possível saber, mais ou menos, o tamanho a que ele vai chegar?, diz Jaime. ?No que diz respeito ao temperamento, também acontece, embora seja um pouco raro, de um doberman ser extremamente dócil e um labrador ter comportamento agressivo. Isto é bastante influenciado pela forma como o animal é criado?.

Outras dicas são, se possível, observar os pais do animal e as características do mesmo em relação a outros filhotes, sendo que desde pequenos alguns gatos e cães já se mostram mais dóceis e ativos do que outros, mesmo que os outros sejam seus próprios irmãos. Porém, uma solução às dúvidas pode ser adotar um animal adulto, que já alcançou seu tamanho definitivo. Neste caso, os proprietários terão que ter um pouco mais de paciência até que o bicho se adapte ao novo ambiente.

?Os gatos, no início, são mais independentes, mas aos poucos vão se acostumando com o novo lar e se aproximando dos donos. Já com os cães, os donos vão necessitar de um pouco mais de paciência até que eles aprendam a fazer suas necessidades no lugar certo e corrijam outros possíveis hábitos indesejados. Com carinho e atenção eles aprendem a se comportar adequadamente dentro do novo ambiente e a obedecer seus proprietários?, afirma.

De acordo com o veterinário, os vira-latas podem ser tão amigos e companheiros quanto os animais de raça e, no caso de cães, podem até servir para proteção da casa, alertando os donos sobre a presença de pessoas estranhas. ?A raça geralmente só é determinante no momento da escolha de um animal. Depois que as pessoas se apegam ao bichinho, ela deixa de ser importante?, finaliza Jaime.

Animais sem raça definida acabam tendo preço menor

Outra vantagem de optar por um animal sem raça definida é a economia financeira gerada no momento da aquisição. Muitos animais de raça costumam custar pequenas fortunas em pet shops, feiras e canis especializados. Já os vira-latas podem ser adquiridos gratuitamente, bastando boa vontade em criá-los. Na capital, existem diversas entidades que disponibilizam cães e gatos abandonados para adoção.

Sociedade protetora

Atualmente, a Sociedade Protetora dos Animais, localizada no bairro Santa Cândida, em Curitiba, abriga cerca de oitocentos animais que estão à espera de um novo lar. Na entidade é possível encontrar animais adultos, filhotes e mesmo alguns já castrados. Para realizar a adoção, basta comparecer ao local com documento de identidade e comprovante de residência. Depois da escolha do bichinho, é necessário assinar um termo de compromisso garantindo que o animal vai ter um lar e ser bem tratado. A entidade não aceita receber novos animais abandonados, pois enfrenta problemas com superlotação. Mais informações: (41) 3256-8211.

Clube das Pulgas

A organização não-governamental Clube das Pulgas costuma realizar algumas feirinhas de doação de animais sem raça definida em locais públicos de Curitiba, como parques e praças. No momento, não há nenhum evento programado. Porém, mediante pedido prévio a entidade disponibiliza, via e-mail, uma listagem de cães e gatos disponíveis para adoção. Quem tiver interesse em receber a lista deve ligar para (41) 3254-8970.

Amigo Animal

Cerca de 740 cães e sessenta gatos vira-latas estão sendo oferecidos gratuitamente pela entidade Amigo Animal. Os animais, a maioria adultos e recolhidos das ruas nos últimos seis anos, vivem em uma chácara à espera de novos donos. Para escolher um amigo, basta realizar uma visita à chácara, localizada em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, e assinar um termo se comprometendo a garantir os cuidados e proteção necessária ao bicho. Informações: (41) 3252-4050 ou 9975-2711 (com Marcelo).

Feira na Barreirinha

Todos os sábados, das 14h às 18h, é possível adotar animaizinhos abandonados em uma feira promovida em um pet shop localizado no bairro Barreirinha. Para pegar um cão ou gato é preciso ter mais de 18 anos de idade, apresentar RG, CPF e dar uma contribuição no valor de R$ 5,00, utilizada para a compra de medicamentos e ração para outros animais que aguardam um dono. Quem adquire o bichinho no local passa a ter descontos em vacinas e consultas médicas veterinárias. O pet fica na Rua Arnaldo Tha, 1329. Para maiores informações: (41)3245-2587 ou 9151-8446 (falar com Lia).

Canil

No canil municipal de Curitiba, uma média de trinta animais esperam diariamente por novos donos. Para adotá-los, basta que a pessoa compareça ao Canal Rio Belém, número 3, no bairro Guabirotuba, munido de RG e de uma coleira. No local, se os animais não são adotados, são sacrificados.

Internet

Na internet também existem alguns sites que divulgam informações sobre animais disponíveis para adoção, como o www.doacaodeanimais.com.br, www.amigoanimal.com.br, www.filhotinhos.curitiba.zip.net ou www.branuncios.com.br. (CV)

SRDs são mais carinhosos que os outros, dizem os donos

Quem tem cães e gatos vira-latas garante que eles são tão ou até mais companheiros do que os animais de raça, sendo fiéis a seus proprietários e transmitindo-lhes muito carinho e atenção. Geralmente as pessoas que adquirem os animais sem raça não os trocam por nenhum outro, independente da beleza ou valor financeiro do bichinho.

É o caso da dona-de-casa Luci da Luz Falavinha Ferreira, moradora de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que há dez anos adotou uma cadelinha abandonada que recebeu o nome de Chiquita. ?Depois que meu marido faleceu, a Chiquita se tornou minha principal companhia. Ela é muito carinhosa e apegada a mim, além de quase não dar trabalho. Nesses dez anos que eu a tenho em minha casa, ela nunca ficou doente?, conta.

Já a aposentada Lúcia Mello da Silveira, que vive em Curitiba, optou por uma gatinha, que é conhecida como Julieta e está com um ano de idade. ?Inicialmente eu queria um gato siamês, pois eles são considerados bastante pacatos. No fim, acabei pegando uma gata sem raça que é bastante sapeca e me dá muitas alegrias. Ela faz acrobacias, corre, pula e dorme na minha cama. Cheguei à conclusão que a raça não é importante, pois me apeguei muito ao animal?.

Não contente em ter um único bicho de estimação, a supervisora comercial Maeze Winkler, que vive em Pinhais, também na RMC, cuida de sete cães e três gatos, todos vira-latas e encontrados abandonados nas ruas. ?Não interessa a raça, pois todos os animais fazem xixi, cocô e gostam de roer móveis do mesmo jeito. Muitas vezes a única coisa que diferencia os animais com e sem raça é a pelagem. Os meus bichinhos são todos vira-latas e mesmo assim me transmitem muito amor?. (CV)

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