Bagdá não caiu! Bagdá: o tempo responde

As tropas anglo-americanas, obviamente, ganharão a Segunda Guerra do Golfo Pérsico (parece reedição de filmes de sucesso, contando com as participações de Bush I e Busch II), porque possuem uma formidável e sofisticada máquina de guerra, que está sendo testada pela indústria bélica – um dos mais importantes segmentos da economia norte-americana, contra indefesos civis iraquianos – que precisa gerar lucro. Mas, será que convencerão à comunidade internacional, que brada alto pela paz? Não creio, porque falta-lhes algo que não possuem: a razão e o direito em sua luta, não obstante a mesma esteja mascarada sob o pálio da liberdade. A Liga das Nações, que foi a semente das Nações Unidas, fracassou, fundamentalmente, porque não tinha Forças Armadas para fazer respeitar suas decisões. As Nações Unidas também desmoronaram e disto se incumbiram dois países, fundadores da mesma, e, conseqüentemente, membros, com direito a veto, Estados Unidos e Grã-Bretanha, que não tomaram conhecimento de suas resoluções e negociações para encontrar uma solução pacífica para o impasse em questão. Nestas alturas, é oportuno lembrar que as tropas de Hitler, autorizadas a quebrar quaisquer leis internacionais, no início da Segunda Guerra Mundial, invadiram Áustria, Tcheco-Eslováquia, Noruega, Letônia, Lituânia, Bélgica, Dinamarca, Holanda, França, porém quando invadiram a Rússia se defrontaram com Stalingrado, que proporcionou a mais violenta batalha da Segunda Guerra Mundial, sendo apontada pelos historiadores, como “the turning point” “(a reviravolta). Para mensurar a sua importância, em termos estratégicos e de geopolítica, basta dizer que tanto Hitler, como Stalin tinham pontos em comum, pois o primeiro, afirmava: “Se eu não conseguir o petróleo da região de Stalingrado, perderei a guerra”, enquanto o segundo, dizia: “Se eu não conseguir defender o petróleo da região de Stalingrado, perderei a guerra”. Não foi sem razão que Stalingrado tornou-se símbolo da resistência, pois os noticiaristas internacionais concluiam seus programas com a célebre frase: “Stalingrado não caiu!” Mesmo arrasada, rua por rua, casa por casa, pedra por pedra, Stalingrado não capitulou. Ninguém melhor retratou esse episódio do que Carlos Drummond de Andre, no poema Telegrama de Moscou:

“Pedra por pedra reconstruiremos a cidade,

Casa e mais casa se cobrirá o chão,

Rua e mais rua o trânsito ressurgirá.

Começaremos pela estação da estrada de ferro

e pela usina de energia elétrica.

***

Outros homens, em outras casas,

Continuarão a mesma certeza.

Sobraram apenas algumas árvores

com cicatrizes, como soldados.

A neve baixou, cobrindo as feridas.

O vento varreu a dura lembrança.

Mas o assombro, a fábula

gravam no ar o fantasma da antiga cidade

que penetrará no corpo da nova.

Aqui se chamava

E se chamará sempre Stalingrado

Stalingrado: o tempo responde”.

Diogo Bello

é advogado.

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