Assaltantes e assaltados

Era antevéspera de Natal e um grupo de amigos resolveu passar a noite jantando e celebrando juntos. Foram todos para a casa da Adayr onde, a princípio, resolveram jogar uma partida de pif… Só que, dois amigos sempre acabavam discutindo, se desentendendo. Aquela noite não foi diferente, os dois discutiram e fizeram menção de ir embora. A dona da casa ficou bastante aborrecida, ela não tinha passado horas na beira do fogão preparando o jantar, pra depois ficar com toda aquela comida sobrando! É, ela tinha razão. Então todos resolveram ficar para o jantar.

No momento em que Adayr tirava o assado do forno, ela teve a impressão de ver a sombra de alguém passar pela janela lateral… O jantar já estava sendo colocado na mesa (tudo muito caprichado), quando quatro assaltantes armados apareceram… As mulheres esconderam suas jóias dentro dos soutiens, mas os assaltantes não tiveram escrúpulos: enfiaram suas mãos por dentro dos decotes e retiraram as jóias… Os telefones celulares também foram requisitados. Depois, todos foram empurrados para o dormitório maior e mandados sentar na cama.

Só a dona da casa permaneceu de pé, cara a cara com um dos invasores…. Duas das mulheres chamavam por Jupyra, aos gritos, mas ela conseguira fugir, descalça, e se esconder no fundo do jardim. Como! Então havia outra mulher escondida? ?Não! Não! Falou a dona da casa, elas estão muito nervosas e estão confundindo… Podem levar o que quiserem, não sou apegada a bens materiais. Quando puder compro de novo.? E eles responderam: ?Nós também…?

Os dois mais violentos foram vasculhar a casa pra ver o que valia a pena ser levado. Outro assaltante ficou cuidando do portão, o mais jovem permaneceu no dormitório, de arma em punho e passou a conversar com Adayr. ?O que vocês jogavam?? Pif, mas também gostamos de jogar cacheta… ?É? Olha, qualquer dia venho jogar cacheta com vocês…? Pode vir… Ele olhou em volta, viu livros e falou que iria levar alguns pra ele mesmo… Em seguida, escolheu um exemplar, colocou a arma debaixo do braço e começou a ler…

Lá pelas tantas, Jupyra cansada de ficar descalça e sozinha no quartinho dos fundos, saiu e bateu no vidro de uma janela porque queria entrar…

Ao ver aquela doida ali, o assaltante mais velho esbravejou: ?Ah!!! Se esta mulher telefonou pra polícia, vão todos morrer…?

Deixada no quarto, ao lado da dona da casa e achando que o tal leitor estava distraído, Jupyra cochichou que iria escamotear o revólver dele, mas foi dissuadida por Adayr (também cochichando), apavorada com a idéia, pois os outros estavam armados…

O marido da Aracy, seu Jordam, chegou para buscá-la e o sujeito que controlava o portão disse-lhe para entrar pois ele estava sendo esperado…

Mais confusão, pois ninguém da casa conhecia aquele cidadão, além da esposa…

E Aracy muito aflita, pediu aos gritos que não levassem o carro que era novo, recém-comprado e sem seguro… ?Cala a boca, Aracy!?

Por último chegou o genro da Adayr que, envergonhado, disse que havia fechado o portão com o cadeado… ?Seu mentiroso?, falou um dos assaltantes, você esqueceu de passar o cadeado. Mas a gente ia mesmo quebrar. Você merecia um tiro na cara. Onde se viu sair para tomar cerveja num bar e deixar a mulher em casa…?

A dona da casa pensando no jantar pronto e a mesa posta, perguntou se eles, os assaltantes, não queriam aproveitar para jantar… Com cara de espanto agradeceram, mas recusaram!

Devia ser oito e meia ou nove horas quando a casa foi invadida e lá pela uma da manhã levaram a mulher mais jovem para ser estuprada! Adayr que permanecera tranqüila, começou a rezar para as santas de sua devoção, pedindo proteção! ?Reze?, falou o ladrão leitor, pois eles vão estuprar mesmo. ?Fez-se um silêncio mortal no quarto. Depois, penalizado, ele saiu em defesa da jovem e conseguiu que ela fosse deixada em paz! E, então, a mãe agradeceu às santas pela interferência e salvaguarda da filha!

Passava da uma da manhã quando todos foram empurrados para o banheiro e trancados. Ao todo treze pessoas, espremidas, sem condição de sair pela janela que era muito pequena, mas, suficiente para gritar por socorro. O calor dentro do banheiro apinhado era grande; uma das mulheres sacudia a blusa e falava:  ?Estou ganhando. Estou ganhando?. Levou um corridão…Um vizinho escutou os pedidos de socorro, entrou na casa que fora deixada com as portas abertas, destrancou a porta do banheiro e todos saíram felizes, pois tinham perdido apenas bens materiais.

Pode-se dizer que foi quase como um presente de Natal…!

Margarita Wasserman – Escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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