Armadilha sonora vai controlar percevejo da soja

Brasília – A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) estuda mais um componente para incrementar o controle integrado do percevejo da soja, inseto devastador que suga o grão e destrói plantações em vários pontos do país. Depois de sintetizar o feromônio liberado pelos machos para atrair as fêmeas para o acasalamento, agora os pesquisadores tentam reproduzir o som emitido pelos percevejos da soja durante o ato sexual como mais um meio de controle.

Diversos estudos mostraram que os insetos emitem sons de baixa freqüência e que esses sons são diferentes para cada espécie, sexo e atividade. Produzidos por vibrações corporais, os sons, quando reproduzidos e propagados mecanicamente, podem atrair os insetos para armadilhas de captura ou despertar a atenção de predadores naturais ou parasitóides que utilizam a postura dos percevejos como hospedeiros.

Vários sons emitidos por machos e fêmeas durante o acasalamento já foram captados e gravados. Todavia, ainda falta criar um micro-aparelho capaz de reproduzir esses sons continuamente em seu padrão original. Engenheiros eletrônicos e especialistas em nanotecnologia da Embrapa já trabalham para isso. De acordo com a empresa é apenas uma questão de tempo.

Recentemente, o pesquisador esloveno Andrej Cokl, do Departamento de Entomologia do Instituto Nacional de Biologia da Ljubljana, ministrou uma palestra na Embrapa sobre a influência dos sons produzidos por percevejos durante o acasalamento. Especialista em comunicação sonora entre a espécie, há vários anos o cientista estuda o comportamento dos insetos em resposta aos estímulos sonoros.

No caso do percevejo da soja, os estudos da Embrapa se direcionam para uma micro-vespa, menor que uma formiguinha de açúcar, que usa os ovos do percevejo para fecundar suas larvas. Este parasitóide consegue decifrar a linguagem química dos percevejos e localizar suas colônias, num procedimento conhecido como “espionagem química”.

Depois de identificar os locais de postura, elas depositam seus ovos dentro dos do percevejo. Estes servirão de alimento aos seus descendentes, dando origem a mais inimigos naturais prontos para procurar outras posturas logo após o nascimento. O percevejo põe dezenas de ovos de uma só vez ? cerca de 80 por postura ? e, para não perder a conta, a vespinha marca cada um dos que foram parasitados. O primeiro macho a nascer será o dominante, ele afugenta os outros e fecunda todas as fêmeas que rompem os ovos.

A eficácia da vespinha já é conhecida. A questão é fazer com que ela chegue à plantação antes ou junto com os percevejos, quando a quantidade de posturas ainda é pequena. “O estímulo sonoro será um componente a mais para atrair a vespinha e ajudá-la a localizar as colônias”, explica o pesquisador Miguel Borges, ressaltando que além de excelentes espiões, elas são insetos de vida livre e inofensivos ao ambiente. Borges estuda a comunicação química entre os insetos há mais de 15 anos e lidera uma equipe de pesquisadores da Embrapa.

Manejo integrado

O manejo integrado de pragas emprega vários métodos para controlar os insetos-pragas por meio da redução de sua densidade populacional. Segundo Borges, o objetivo é controlar e não acabar com os insetos. “Eliminá-los pode provocar a quebra da cadeia alimentar e prejudicar o meio ambiente. O importante é que a população fique sempre abaixo do nível gerador de danos econômicos”, explica o pesquisador.

É aí que entra a ecologia química, ramo da ciência que estuda o comportamento e a comunicação química entre os insetos, realizada por meio da liberação de feromônios (entre insetos da mesma espécie) ou de aleloquímicos (entre espécies diferentes) e empregados para diversas finalidades: sexual – caso dos percevejos -, como sinal de alerta contra predadores – caso da conhecida Maria Fedida – ou como sinal de marcação, para as formigas, por exemplo.

Borges explica que os compostos voláteis são específicos para cada espécie e, uma vez mapeados todos os passos biológicos, é possível extrair os compostos, determinar o composto ativo, sintetizar o extrato e utilizá-lo para atrair os insetos-pragas para armadilhas.

A liberação do extrato no campo é o primeiro passo para definir o método ou o conjunto deles que será utilizado no manejo integrado. Com ele, é possível monitorar a chegada da praga na lavoura e combatê-la localmente, evitando a aplicação de inseticida na plantação como um todo. “De acordo com a quantidade de insetos capturados podemos determinar sua chegada e aplicar métodos menos danosos de combate”, ensina Borges.

Quando a lavoura já está infestada, o simples monitoramento perde sua valia, e entra em ação o procedimento de captura massal, que consiste em espalhar várias armadilhas em diversos pontos da plantação. As armadilhas prendem e retiram do campo uma grande quantidade de fêmeas, diminuindo o acasalamento e reduzindo o nascimento na próxima geração. Outra técnica é a do confundimento. Como o nome indica, o objetivo é confundir e dificultar o encontro entre os parceiros. Neste caso, o composto sintetizado é espalhado em grandes quantidades em vários pontos da lavoura. Atraída pelo cheiro, a fêmea segue diversos rastros, mas dificilmente encontra um macho. Cansada pela procurar e sem acasalar ela acaba deixando posturas inférteis.

Como se não bastassem todas essas iscas e armadilhas, o percevejo da soja também precisa se preocupar com os parasitas e predadores naturais que, brevemente, ganharão mais um instrumento para auxiliar sua caçada: o estímulo sonoro. Atraídos pelo cheiro do feromônio e pelo som do acasalamento dos percevejos, os inimigos poderão chegar nas plantações antes deles.

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