Alimentos com propriedades terapêuticas

Muitos podem duvidar, mas os nutricionistas garantem que alguns alimentos têm poder para prevenir estresse, doenças inflamatórias crônicas e até câncer. Essas propriedades terapêuticas do alho, da alcachofra, do tomate e de outros produtos começaram a ser pesquisadas em 1980, no Japão. Porém, no Brasil, o conceito de nutrição funcional é bastante recente. Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Gláucia Pastori, esse ramo ficou mais claro nos últimos quatro anos.

"A coisa mais importante hoje é que o conceito de nutrição mudou muito no últimos anos. O trabalho com os alimentos funcionais é um novo conceito. O Brasil ainda é muito tímido para falar disso. É tudo muito novo, mas há evidências científicas que levam por esse caminho", explica Gláucia.

Afinal, o que seria a nutrição funcional, conceito tão considerado atualmente? A nutricionista Flávia Ferreira Sguário, está em uma das poucas turmas de pós-graduação na área, e explica que trata-se de tirar do organismo o que ele não precisa e faz mal e reforçar o que pode fazer muito bem. "Às vezes, a pessoa se sente mal e acha que é algo muito complicado, mas apenas retirando um alimento e suplementando com vitaminas e outras substâncias, já melhora. Alimento funcional é aquele que, além de suas funções nutritivas, tem propriedades terapêuticas e ajuda na prevenção de doenças cardíacas, hipertensão, problemas intestinais, diabetes, hipoglicemia, hiperatividade e alguns tipos de câncer", orienta Flávia.

A nutricionista funcional Marcelli Horta Coronet complementa. "Se fornecermos ao corpo as ferramentas corretas, ele tem a capacidade de auto-regular-se. A doença e as disfunções ocorrem quando esta regulação é perturbada, ou seja, a doença não é um inimigo, pelo contrário, é um sinal de que o corpo precisa se adaptar ou mudar: lhe faltam as ferramentas devidas", explica.

Na prática

A estudante Roberta Correia Dorigo, 26 anos, sentiu durante muito tempo que seu organismo não ia bem. Após um acompanhamento com nutrição funcional, hoje sente-se bem melhor. "Minha pele era muito ruim. Eu me sentia cansada e tinha problema de intestino. Não sabia o que era, estava sempre inchada. Descobrimos que o que me fazia mal era o leite. Eu usei o pró-biótico para refazer a flora intestinal e troquei tudo por soja. Hoje, minha pele está boa e eu melhorei 100%", conta Roberta.

Rose Maria Machado Barão, 40 anos, também ganhou mais saúde com alterações na alimentação. Ela procurou vários médicos e estes diziam apenas que ela tinha refluxo gástrico. No entanto, após tratamento com nutrição funcional, achou o que a incomodava. "Além de ficar inchada, eu sentia muita dor nas pernas, no estômago e crises fortíssimas de enxaqueca. Os médicos me receitavam medicamentos, mas o trabalho com os alimentos é muito melhor", afirma.

Na nutricionista, após ser questionada sobre os hábitos alimentares, chegou ao alimento ao qual era alérgica. "Eu achava que estava gorda, mas vi que estava intoxicada . Passei a uma alimentação com frutas, tudo integral e cortei por completo a carne vermelha. Tomo também o suco de lima da Pérsia com couve e abacaxi com gengibre, que funcionam como antioxidantes. A sensação que tenho é que estou mais leve e a minha enxaqueca diminuiu mais de 30%, mais do que eu esperava", conta Rose Maria.

Eficácia está associada ao estilo de vida

Apesar de haver várias provas da eficácia dos alimentos funcionais, ainda não há unanimidade sobre o assunto no meio médico. As propriedades terapêuticas desses alimentos são evidentes, mas não funcionam como remédio: são para a vida toda. "Não é como o remédio. Com relação a alimento funcional, o diferente é que se deve estar sempre em dieta e depende do estilo de vida", afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Gláucia Pastori.

"Acho que todos, em primeiro lugar, precisam de uma alimentação saudável. Não precisa ser médico para dizer que é beneficiável. Com o consumo dos alimentos corretos, vamos certamente prevenir doenças", analisa José Fernando Macedo, presidente da Sociedade Médica do Paraná. Segundo o cirurgião vascular, a nutrição funcional é uma realidade muito importante para a área da saúde. Segundo ele, também muito importante é que a medicina trabalhe aliada à nutrição.

A presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Mariza Helena Coral, porém, tem suas dúvidas. "Não tem nenhuma evidência científica que comprove que algum alimento possa prevenir o câncer. É preciso se fazer muitos estudos ainda. Esses alimentos sempre existiram. O que há hoje é um modismo, mas não há nada que prove", afirma a endocrinologista.

Apesar das contestações, Gláucia Pastori ressalta que investir na divulgação da nutrição funcional tem um porquê. "Em um país com uma biodiversidade enorme, que é o Brasil, isso é extremamente estratégico. Iria minimizar os gastos com hospitais e remédios", argumenta. (NF)

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