A mortandade de tartarugas no Paraná

A imagem de uma tartaruga morta na areia chamou a atenção de pessoas que passaram o último feriado de 7 de setembro em Caiobá, no litoral do Estado. A carcaça do animal acabou virando atração turística e foi encontrada nas proximidades do mar, junto a uma grande quantidade de peixes mortos. O caso deixou muitas pessoas chocadas. Porém, não é considerado fato isolado.

Segundo o engenheiro agrônomo Reginato Bueno, que atua no Instituto Ambiental do Paraná (IAP) na cidade litorânea de Paranaguá, o aparecimento de tartarugas mortas nas praias paranaenses é considerado freqüente. ?A causa principal do problema é a disposição irregular das redes dos pescadores, que fazem com que haja captura acidental de animais?, comenta.

Na maioria das vezes, quando batem em redes simples, as tartarugas conseguem se soltar. Porém, Reginato explica que isso não acontece com a chamadas redes feiticeiras, que são duplas, e de caceio, que se movimentam e acompanham a maré. Quando esbarram nestas, as tartarugas acabam ficando enroladas. Presas, elas não conseguem subir até a superfície para respirar e morrem afogadas.

A estimativa é de que as tartarugas tenham fôlego para ficar apenas entre oito e doze minutos consecutivos embaixo d?água. Quando as trazem em suas redes, os pescadores, que não podem comercializá-las, as jogam de volta no mar, fazendo com que elas acabem indo parar na areia. ?Há uma questão social envolvida na morte das tartarugas. Não podemos pedir para que os pescadores parem de pescar e obter suas fontes de renda para deixar de capturá-las acidentalmente. Entretanto, estamos estudando melhorias no sistema de arrasto das redes para minimizar o problema.?

Outra causa da mortandade é o lixo jogado em locais inadequados pela população, que na maioria das vezes vai parar no mar. É comum que as tartarugas confundam plásticos e tampas de garrafas com algas e outros alimentos. Ao fazerem isso, elas acabam morrendo devido à ingestão dos produtos. ?Elas não sabem distinguir o lixo dos alimentos, pois normalmente se orientam pela cor do que encontram no mar?, diz o engenheiro.

O lixo não é um risco apenas para as tartarugas, mas também para diversas espécies de pássaros, como por exemplo as gaivotas e os atobás. No caso das aves, muitas vezes os pais levam lixo para alimentar seus filhotes, que posteriormente vêm a morrer. ?Algumas pessoas até têm consciência dos problemas gerados pelo lixo, mas não param de depositá-lo em locais inadequados. Isto é um problema sério e que gera transtornos para todos.?

Estado recebe cinco espécies diferentes

Foto: Allan Costa Pinto

Animal morto no último feriado de 7 de setembro.

É nos meses de inverno que mais são encontradas tartarugas mortas nas praias paranaenses. Por isso, há suspeitas que a mortandade também possa estar relacionada a correntes e frentes frias. ?As correntes frias podem fazer com que os animais se aproximem mais da praia e acabem morrendo em função das redes e do lixo. Outra suspeita é de que, no verão, quando há mais pessoas no litoral, as carcaças das tartarugas acabem sendo levadas por turistas, o que dá a impressão que a mortalidade é menor?, afirma a bióloga do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Liana Rosa.

Ocorrem no litoral do Estado as cinco tartarugas marinhas que freqüentam os mares brasileiros: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-verde ou auraña (Chelonia mydas), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-gigante ou tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) e tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea).

A tartaruga-verde é a mais abundante e a única espécie de tartaruga marinha herbívora. A espécie mais rara, que chega a pesar 700 quilos e medir 1,7 metro, é a Dermochelys coriacea. Porém, no início deste ano uma tartaruga-gigante foi vista colocando ovos em praia paranaense. A cabeçuda tem grande capacidade migratória e pode pesar até 145 quilos.

A tartaruga-de-pente tem o litoral da Bahia como mais importante área reprodutiva. Por ser muito bonita, é grande vítima de caçadores. Sua carapaça é bastante utilizada para a confecção de adornos, como pentes, de onde vem seu nome. Já a tartaruga-oliva é a menor de todas as espécies, pesando cerca de 65 quilos. (CV)

Projeto protege animal em todo o País

Foto: Divulgação/Projeto Tamar

Tamar desenvolve projeto para alertar sobre risco de redes.

Em todo Brasil, as tartarugas marinhas contam com o apoio do Projeto Tamar (Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas Marinhas) para continuar existindo. Desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através do Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas, e pela entidade não-governamental Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisas das Tartarugas Marinhas, a iniciativa foi criada em 1980.

Com a missão de proteger as tartarugas que existem no mar do Brasil, os integrantes do projeto desenvolvem, além de ações de pesquisa e conservação, trabalhos de educação ambiental e de desenvolvimento das comunidades costeiras, com o objetivo de oferecer alternativas econômicas que reduzam a pressão humana sobre os animais.

As atividades do projeto são colocadas em prática em 22 bases, distribuídas em cerca de 1.100 quilômetros da costa e que envolvem aproximadamente 1.200 pessoas. ?Todos os anos, mais de 1,5 milhão de pessoas visitam as bases e 150 estagiários recebem treinamento e capacitação, tornando-se multiplicadores dos conhecimentos adquiridos?, informa o site do projeto.

A base mais conhecida do Tamar está localizada na Praia do Forte, no litoral do Estado da Bahia. No Sul do País, uma base está presente na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina.

Atualmente, um dos projetos desenvolvidos pelo programa se chama ?Nem tudo que cai na rede é peixe?, que tem como objetivo conscientizar os pescadores sobre os riscos para a espécie quando cai numa rede de pesca e como eles podem fazer para ajudar o animal caso pesquem alguma tartaruga acidentalmente. Mais informações sobre o projeto e sobre a conservação de tartarugas marinhas podem ser obtidas no endereço www.projetotamar.org.br. (CV).

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