MST ocupa mais duas áreas na região Noroeste

Ao mesmo tempo que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) fez ontem, na região Noroeste, mais duas ocupações em fazendas, o governador Roberto Requião (PMDB) anunciou que cumprirá três ordens de reintegração de posse. Os sem-terra tomaram a Fazenda Santa Terezinha, 570,8 alqueires, em Paranapoema, e, pela quinta vez, a Fazenda Água da Prata, em Querência do Norte. O governo do Estado prometeu para esta semana reintegrações de posse nas cidades de Xambrê, Vila Alta e Luiziana.

Hoje acontecerão duas desocupações: em Vila Alta, na Fazenda Santa Filomena, às 9h, e em Xambrê, na Fazenda Santa Isabel, às 14h. Os invasores nesse caso fazem parte do Grupo de Xambrê, sem vínculos com o MST. A Polícia Militar destacou 85 soldados para essas operações.

No sábado, o governo vai desocupar a Fazenda Baronesa dos Candiais 2, em Luiziana, na região Centro-Oeste, às 9h. “A tônica das desocupações no Paraná tem sido o diálogo e a negociação para que o processo transcorra dentro da paz e da tranqüilidade”, afirmou o secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.

Requião também destacou que as duas áreas ocupadas ontem serão devolvidas a seus proprietários assim que a Justiça conceder a reintegração.

Efeito

O coordenador estadual do MST, Edson Bagnara, afirmou que existem algumas formas de pressionar o governo pela reforma agrária, mas a que surte mais efeito é a ocupação das fazendas. “Estamos denunciando na prática e mostrando que o fim do latifúndio é solução para a fome, o desemprego e a habitação”, afirmou.

As duas novas ocupações acontecem no final da madrugada e no início da manhã de ontem. Em Paranapoema cerca de seiscentas famílias estão acampadas na área de propriedade de Hiroruk Mahaha. “Está chegando mais gente. Ao todo vamos chegar a mil famílias”, destacou.

Com 1.100 hectares, a Fazenda Água da Prata é considerada produtiva pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O instituto já tentou negociar a compra com os proprietários em outras oportunidades, mas não houve acerto. “Lá estão seiscentas famílias. Na última vez que a ocupamos, o trabalhador Sebastião da Maia foi assassinado”, lembrou.

Roque foi alertado sobre lista

O secretário do Trabalho, Emprego e Promoção Social e presidente da Comissão de Mediação de Questões da Terra do governo do Estado, padre Roque Zimmermann, revelou ontem, estar preocupado com o aumento da tensão entre agricultores sem-terra e fazendeiros no Paraná. Padre Roque havia sido alertado há cerca de um mês sobre a existência de uma lista de líderes do MST na região de Campo Mourão que estariam, segundo o movimento, “jurados de morte”.

Num primeiro momento, o MST optou por não tornar pública a suposta lista. “A morte do Francisco de Nascimento Souza (morto na madrugada do último dia 4) validou, de certa forma, as informações que os sem-terra haviam me passado”, disse o secretário. Francisco era uma das pessoas mencionadas na lista.

Apesar da situação crítica, Roque diz acreditar que o governo chegará a uma solução pacífica para a reforma agrária no Paraná. “Já fizemos oito reintegrações de posse pacíficas, sem sangue e sem lágrimas”, contabiliza. “Estou divulgando essas informações sobre a lista porque acredito que é meu dever com a sociedade levar a público esse tipo de informação.”

A lista

Ontem, Roque ele conversou com o sem-terra José Damasceno, que reafirmou a existência da lista e acusou o Primeiro Comando Rural (PCR) de estar infiltrado nos acampamentos do movimento. “Ficamos sabendo da lista por meio de uma denúncia”, disse Damasceno, em conversa com o secretário. Segundo ele, o movimento suspeita que há pessoas infiltradas nos acampamentos. “A pessoa que denunciou a existência da lista nos disse que há membros do PCR averiguando quais são as lideranças de cada acampamento nosso”, acusa Damasceno. A denúncia do MST, no entanto, ainda não foi formalizada. “Se houver provas contundentes encaminharemos o assunto para os órgãos competentes”, disse.

O PCR foi formado no início do ano por proprietários de terras na região de Pitanga. A proposta do grupo é constituir grupos armados para defender as propriedades da região.

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