Ministro balança

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. era um dos poucos auxiliares diretos do presidente Lula que parecia indene à pandemia da crise política e moral que atingiu e corrói o governo e suas bases políticas. E que destruiu a tal ponto o principal partido situacionista, o PT, que está sendo preciso tentar reconstruÍ-lo. Uma reconstrução complicada, pois exige mudanças de nomes, vigilância em relação aos que restam e aos que entram e até um churrasco paroquial em Brasília, para levantar dinheiro. Uma ninharia diante dos muitos milhões que o partido deve, não nega em parte e nega na maior parcela e não parece disposto nem capaz de pagar.

O dinheiro que assim se tenta arrecadar da militância é para sustentar a campanha pela reeleição, uma jornada que deverá ser a pão e água, tão diferente das anteriores, que foram regadas em abundância com dinheiro que corria pelo valerioduto.

A crise foi e ainda está sendo tão séria que a oposição, em geral leniente, acabou destronando até o todo-poderoso ministro da Fazenda, Antônio Palocci. E outros foram antes dele, desde homens do gabinete e assessoria do presidente, passando por outros ministros, até a totalidade da cúpula do diretório nacional do PT, dirigentes de empresas públicas importantes, como o presidente da Caixa, e um reles achacador que foi flagrado embolsando três mil reais nos Correios para facilitar negociatas camufladas de concorrências públicas.

Mas Bastos manteve-se firme e isento de acusações até estes últimos dias, sempre com uma palavra severa, serena e insistentemente dizendo que tudo deveria ser esclarecido e punidos os culpados, fossem quem fossem. Pois nesta quadra final de governo é ele, o ministro da Justiça, que está balançando e já há quem aposte que cai. Entre os que apostam está até o seu amigo de longa data, o jurista Miguel Reale Júnior. Para Reale, a atuação ou suspeitas de atuação de Bastos no episódio da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa tornam a situação do ministro insustentável. Existem fundadas desconfianças de que ele meteu o bedelho no caso, quando não foi o seu condutor, a mando ou inspiração do ex-ministro Palocci.

Pretenderam com um crime defender o todo-poderoso ministro da Fazenda. E o ataque foi feito a um simples caseiro, um homem humilde chamado Francenildo que cuidava de uma mansão, em Brasília, onde se reunia uma caterva acusada de várias negociatas hoje e de há muito tempo. Grupo que cercou, como assessoria, durante anos, o então prefeito de Ribeirão Preto Antônio Palocci. A questão era saber se Palocci freqüentava ou não esse tugúrio. Francenildo, e antes dele um motorista, disseram que sim. O ministro jurou de pés juntos que não. Foi então que alguém teve a infeliz idéia de plantar uma irresistível suspeita contra o trabalhador humilde e pobre que era caseiro daquela turma. Sem autorização judicial, invadiram sua privacidade abrindo sua conta bancária na Caixa Econômica Federal. A descoberta do fato exigiu uma investigação e logo se comprovou o comprometimento do presidente da CEF, que perdeu o cargo. Palocci estaria, acima dele, como mandante? Pelo sim, pelo não, o ministro renunciou ou foi demitido. Agora é a vez do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de quem se suspeita ter sido o executor de toda essa manobra espúria. E até amigos íntimos e respeitáveis, como Reale, já crêem que seu comprometimento ou o peso das suspeitas recomenda que deixe o cargo. Como acaba de ser feita a reforma ministerial para desincompatibilização, em razão da proximidade das eleições, Lula está ficando sozinho e sem dinheiro.

Com ele, dizem as pesquisas, só está o povo. Só?

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