Mínimo do empate

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-trabalhador forjado nas lides sindicais de grande porte, decretou o novo salário mínimo para a nação brasileira. R$ 240,00. Redondos. Disse que não é o mínimo ideal. É o mínimo possível, vigente desde primeiro de abril, o dia da mentira. Para maio, vem aí o “pacote do trabalhador”, incluindo tudo o que se imagina, menos salário maior.

Todo mundo sabe – disseram assessores, porta-vozes e áulicos – que o aumento que o presidente gostaria de dar era muito maior que este. Todo mundo sabe, também, que o mínimo que trabalhadores e aposentados pelos valores ínfimos gostariam de ganhar era outro. Paciência. A promessa embalou um bonito sonho. Mas a água da boca já secou.

Nem se fale em aumento e, sim, reajuste. A correção mal cobre os índices apurados no curso dos últimos doze meses. A ginástica palaciana encontrou a diferença positiva de 1,85% (há variações de acordo com o índice adotado) entre o arredondamento do anúncio presidencial e a realidade inflacionária. É um debate ridículo esse e, mesmo assim, há controvérsias. Na pior das hipóteses, esse é o mínimo do empate. Isto é, mal corrigiu o valor de compra do dinheiro, com todas as substituições de produtos e serviços para o zeramento contábil pretendido. Pior: o reajuste vale apenas para o piso de pensionistas e aposentados. Isto é, quem já recebia acima de R$ 240 (R$ 241, por exemplo), continuará percebendo o mesmo. Também vale para o achatamento: aposentado que antes ganhasse entre R$ 200 e R$ 240 (R$ 239, por exemplo), fica no limite mínimo sem direito a choro nem vela.

Para quem advogava um mínimo equivalente a pelo menos 200 dólares, a conta fechou com 71,5 dinheiros americanos. A despeito do tamanho e importância de nossa economia, continuamos com um dos menores salários mínimos do planeta.

Queixa-se o governo de que o valor decretado aumenta os gastos públicos em mais de um bilhão de reais. Isso porque cada real de aumento no salário mínimo gera um impacto de R$ 180 milhões nas contas da falida Previdência que o PT, em passado recente, negou-se a reformar. A contabilidade oficial e o zelo pelo orçamento público, entretanto, não funciona com tanto rigor quando se trata de reajustar vencimentos e vantagens dos ilustres deputados e alguns outros graúdos agentes do Estado injusto e perdulário. O direito adquirido de alguns impede a aquisição dos direitos de outros.

Para aliviar a decepção causada com o anúncio do novo mínimo, maio se aproxima com a promessa de grandes ações sociais do governo. Um “pacote” em amarração – dizem – favoreceria a geração de empregos, principalmente o primeiro, destinado à força de trabalho jovem e ociosa. Como na guerra, o gesto oficial teria a vantagem de dizer que existem coisas piores acontecendo. Num país onde vicejam milhares de excluídos, dê-se por satisfeito quem consegue abocanhar pelo menos o mínimo minimorum. Nem que com ele a sobrevida seja uma dolorosa ginástica diária.

Nas assembléias sindicais que Lula conhece a fundo existe aversão a propostas que contemplem o nivelamento por baixo. Quando o empregador é o governo, entretanto, sindicalistas e afiliados costumam falar sozinhos. Que venha o pacote, pois, que o mínimo já é conhecido.

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