Metrô sabia da instabilidade no terreno, aponta relatório

O primeiro relatório de um engenheiro do Metrô de São Paulo sobre as causas do desabamento nas obras da Linha Amarela apontou que as empreiteiras sabiam da instabilidade do terreno e mesmo assim não interromperam o trabalho e nem fizeram obras de contenção a tempo. Segundo o engenheiro Cyro Mourão Filho, que mostrou às autoridades o documento apresentado 12 dias após o acidente, o que houve foi "uma sucessão, eu diria, uma sucessão de falhas de procedimento", disse ele ao Jornal Nacional, da Rede Globo, que teve acesso ao documento.

O relatório apontou que na véspera do deslizamento, na quinta-feira, os engenheiros do Metrô foram informados por um engenheiro do consórcio que as paredes do túnel estavam envergando, pressionadas pelo terreno. Decidiram então que o túnel seria reforçado com tirantes, pinos de aço de cerca de três metros de comprimento. A instalação dos pinos começou no mesmo dia.

Quando a decisão de reforçar o túnel embaixo foi tomada, ainda não se sabia qual a causa da movimentação do terreno, o que ainda não se sabe. Mas a obra não parou. Enquanto uma equipe fortalecia o túnel, outra frente de trabalho continuava abrindo caminho na rocha com dinamite. Às 11 horas de sexta-feira, dia do acidente, que acabaria com três mortes, os fiscais do Metrô souberam de uma detonação de explosivos, feita horas antes, a poucos metros de onde o túnel apresentava problemas.

Ao Jornal Nacional, o presidente do Instituto Brasileiro do Concreto, Paulo Helene, disse ser "evidente" que as explosões causaram vibrações na estrutura, "um efeito dinâmico e isso pode ser um fator agravante. Isso é um fator agravante do colapso", afirmou.

Ainda na sexta pela manhã, os fiscais constataram que a furação não estava pronta e os pinos de aço não tinham sido colocados. Pouco mais de três horas depois o túnel ruiu. Momentos antes do desmoronamento, placas de concreto se desprenderam do teto do túnel e, em seqüência, houve a ruptura do concreto que levaria o poço abaixo. O relatório informou, no entanto, que na sexta-feira nenhuma anomalia chamou a atenção dos fiscais do Metrô. Não havia fissuras nas paredes nem outros sinais de risco.

Contudo, um operário do consórcio, ouvido no dia do desabamento, disse que na noite anterior recebeu ordem para maquiar rachaduras no túnel. "O túnel estava trincado e foi pedido para ter uma cobertura no túnel, na rachadura, para que a fiscalização não veja", contou o operário.

Em nota, o Metrô declarou que a comissão interna de prevenção de acidentes, a Cipa, não é competente para discutir o desabamento. O consórcio Via Amarela não quis fazer comentários porque não conhece o relatório. O laudo oficial sobre o desabamento está sendo feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

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