Mercosul e Marrocos assinam acordo-quadro para zona de livre comércio

O Mercosul e o Marrocos deram hoje o pontapé inicial para a criação de uma zona de livre comércio, com a assinatura de um acordo-quadro na área comercial. Esse foi o principal documento firmado durante a visita do rei do Marrocos, Mohammed VI, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também foram assinados acordos na área de turismo e treinamento de diplomatas.

O Marrocos poderá ser uma porta de entrada para produtos brasileiros na região e até na Europa, segundo avaliou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.

Apenas 14 quilômetros separam o Marrocos da Espanha. O comércio, hoje na casa de US$ 600 milhões, é "significativo", acredita o ministro. Houve um crescimento de 40% entre 2003 e 2004. Há ainda a possibilidade de atrair investimentos árabes para o Brasil.

Antes de chegar a uma zona de livre comércio, Mercosul e Marrocos negociarão um acordo de preferências tarifárias, onde são estabelecidas condições privilegiadas (tarifas mais baixas) para apenas uma parte do comércio bilateral. O acordo de preferências tarifárias deverá estar pronto em meados de 2005. Com sorte, ele poderá ser assinado durante a reunião de cúpula Mercosul-Países Árabes, marcada para maio, em Brasília.

"O Mercosul já está em tratativas com vários países árabes, como o Egito e o Marrocos", disse Furlan. "Isso terá efeitos não só políticos, como também de comércio e investimentos." Ele lembrou que os países árabes estão tendo um "enorme fluxo de recursos" com a alta do petróleo. "E a guerra no Iraque faz com que a atratividade da América do Sul seja maior, pois se trata de um continente pacífico." O rei Mohammed VI decidiu vir ao Brasil justamente porque procura uma aproximação com os países do Atlântico. Ele já esteve no México e ainda pretende visitar Chile, Peru e Argentina.

"A presença de numerosos empresários em sua comitiva demonstra determinação de explorar as possibilidades de intercâmbio bilateral", discursou Lula durante almoço servido no Itamaraty. "Esteja certo que encontrará, de nossa parte, igual empenho." O presidente disse que uma missão empresarial brasileira irá ao Marrocos em 2005.

Brinde

Lula condenou o atentado terrorista à cidade marroquina de Rabat, no ano passado, antes de erguer um brinde – com uma taça de água, porque os marroquinos são muçulmanos e por isso não ingerem álcool. Mohammed VI fez o mesmo. Dizem os supersticiosos que brindar com água atrai má sorte. Após os brindes, Lula afixou na lapela do rei do Marrocos a roseta de condecoração da Ordem do Cruzeiro do Sul.

Depois de servir filé frio para os convidados do almoço de Lula com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o Itamaraty resolveu inovar e serviu churrasco ao rei do Marrocos. Quatro cortes diferentes de carne bovina chegaram em espetos na mesa de Lula e Mohammed VI. Foram acompanhados pelos brasileiríssimos farofa de ovo, feijão tropeiro (sem toucinho), arroz branco e salada.

De sobremesa, sorvete de manga com calda de framboesa. Os brasileiros beberam vinho tinto Casa Valduga, enquanto os marroquinos se refrescaram com sucos de frutas variadas.

No campo político, o Marrocos apoiou a tese de que é necessário reformar a Organização das Nações Unidas (ONU), para que tenha mais representatividade. "Ambos aspiramos à aplicação de um novo multilateralismo mundial mais justo, mais equilibrado e mais solidário." O rei, porém, não disse se apoia a candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ele ainda fez menção ao conflito envolvendo o Saara Ocidental, dizendo que o Marrocos não poupará esforços para concretizar a União do Magrebe.

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