Máscara da corrupção

O desfecho não poderia ser outro depois do constrangimento a que se submeteu o presidente Lula, na curta visita a Assunção no início da semana, onde além do clima inamistoso criado pela imprensa local, purgou também o dissabor de ter como participante da assinatura de protocolos de intenções e da inauguração das duas últimas turbinas da Usina Hidrelétrica de Itaipu o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Aqui, os jornais davam desusado espaço à relação do ministro com a patota chefiada pelo empresário Zuleido Veras, dono da construtora Gautama.

Rondeau bem que tentou se apresentar como vítima da sanha dos inimigos, mas não resistiu à pressão e foi expelido moralmente da organização que conspurcou de modo irreversível, segundo constatou a Polícia Federal na Operação Navalha. Veio a furo um esgar oculto da medonha máscara da corrupção, no qual o ministro teria recebido a propina de R$ 100 mil em troca dos favores concedidos à Gautama na implantação do programa Luz para Todos, no Piauí.

Como em qualquer filme de espionagem, a PF fotografou o deslocamento de funcionários e lobistas da construtora sediada em Salvador por agências bancárias, estacionamentos e aeroportos, tudo confirmado pela gravação legal de telefonemas. De quebra, os investigadores receberam por via judicial cópias das imagens gravadas pelo circuito interno do Ministério de Minas e Energia.

O mínimo que se pode dizer, diante do realismo das cenas exibidas, é que a corrupção nunca havia sido documentada com tamanha meticulosidade, brindando os telespectadores com uma seqüência detalhada de todos os lances até a entrega do envelope contendo a propina a um assessor qualificado do ministro Rondeau, no corredor mesmo da área restrita do gabinete.

Um grotesco acinte à consciência nacional, que exige devassa absoluta de parte da Procuradoria Geral da República, ensejando a aplicação de punições exemplares a todos quantos se atolaram nesse odioso trambique.

Os tentáculos da construtora Gautama, que enlameou o próprio nome escolhido, se estenderam sobre ex e atuais governadores, ministros, secretários estaduais e parlamentares, levantando justificada suspeita sobre a ?facilidade? com que Zuleido Veras contratou obras públicas no valor de R$ 1,3 bilhão em tão poucos anos. A PF acabou com a festa.

Voltar ao topo