Manifestações pelo referendo fracassam no Rio

Rio (AE) – No último fim de semana antes do referendo das armas, as duas manifestações marcadas para ocorrer no Rio de Janeiro não atingiram o seu objetivo. A passeata do grupo contrário à proibição da venda de armas atraiu cerca de 150 pessoas na Praia de Ipanema. Já o ato em defesa do fim do comércio de armas na Lagoa Rodrigo de Freitas, com menos de 50 pessoas, irritou até mesmo simpatizantes do "sim" e terminou em bate-boca entre a governadora Rosinha Matheus e uma mulher que criticou a poluição da lagoa.

A campanha pelo "sim" levou para a Rodrigo de Freitas 36.091 cruzes de isopor, para simbolizar os mortos por armas de fogo no Brasil em 2004. O vento forte espalhou as cruzes pelo espelho d’água. Muitas ficaram presas na vegetação próxima à margem da lagoa. A professora Sônia Ribeiro, de 51 anos, pensou tratar-se de espuma. Indignou-se ao saber que era o ato pela proibição da venda de armas.

"A lagoa está fétida, tinha até rato boiando esta semana. Era preciso limpá-la em vez de fazer isso", criticou a professora, que é a favor da proibição da venda de armas. "Violência não é só estar armado, agredir o meio ambiente também é violência", afirmou a cientista social Maria Clara Fernandes, de 27 anos.

Também não foi feliz a idéia de soltar no meio da lagoa 27 pombas brancas, representando cada Estado. Os bichos ficaram confinados em duas caixas de papelão e saíram zonzos quando a governadora Rosinha Matheus os libertou. Também se assustaram com a movimentação de um helicóptero do governo do Estado. Somente duas pombas chegaram à margem voando. O restante foi transportado por fotógrafos e bombeiros.

No fim, Rosinha foi interpelada por uma mulher que queria saber quem seria responsável pela limpeza do espelho d’água. "A senhora não respondeu", gritava a mulher. "Baixe seu tom de voz", irritou-se a governadora. Rosinha explicou que o Corpo de Bombeiros faria a limpeza imediatada. "Quem vai pagar por isso?", quis saber. A governadora teria respondido: "Você." A mulher, que não se identificou e é eleitora do "não", respondeu: "Sou eu mesma. Eu e a população."

Na Praia de Ipanema, partidários da venda de armas levaram vítimas de ocorrências com armas de fogo para a passeata. Entre eles estava o dentista Milton Rezende Duarte, de 45 anos, que teve o consultório assaltado no fim do mês por um homem armado. Ele foi usado como escudo pelo criminoso e levou um tiro de fuzil disparado pela polícia. Perdeu parte do bíceps do braço esquerdo. "Se eu tivesse uma arma tinha condição de reagir porque ele estava sozinho e estava drogado", afirmou.

O policial militar Walter Calixto de Oliveira, de 43 anos, também participou do ato. Ele ficou paraplégico ao reagir a um assalto a ônibus, 10 anos atrás. "Desarmamento não é a solução. O bandido que assaltou o ônibus continuaria armado", afirmou.

No alto-falante, um locutor gritava "Não ao Viva Rio! Não ao desarmamento!" e pedia que as pessoas fossem mais devagar para atrair os manifestantes. Em vão. Pouca gente deixou a praia para se juntar à passeata.

Campanha

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), da Frente Parlamentar pelo Direito da Legítima Defesa, comemorava o último resultado da pesquisa do Ibope, segundo a qual 49% da população votará contra o fim da venda de armas. "Não colou o fato de o governo querer responsabilizar o cidadão de bem pela violência no País."

O deputado Carlos Minc, da Frente Parlamentar por Um Brasil sem Armas, informou que na última semana de campanha as propagandas pelo "sim" vão centrar esforços em dois conceitos. O primeiro é: "Votar não significa não mudar nada", já que a venda de armas já é permitida, mas os índices de violência são altos. O outro é "Desarmar geral", com a explicação de que governos federais e estaduais dobraram a apreensão de armas nas mãos dos criminosos em dois anos.

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