Mandato da convergência

Neste final de mandato, o reeleito presidente Lula não tem tempo para nada, senão conversar. E conversa com todo mundo, começando pelo diálogo difícil ou reticente com os correligionários do PT, cujo apequenamento na máquina governamental pode até não ser desejado, mas será inevitável. O presidente vem também conversando com lideranças de outros partidos que o apoiaram, com a parcela do PMDB que esteve contra ele, com governadores aliados e alienígenas e já fala em conversar até com os adversários declarados do PSDB e do PFL.

Os governadores foram também convidados a sentar-se à sua mesa e negociar. É que o presidente Lula não terá condições de governabilidade com os apoios que o levaram de volta ao cargo, pois foi o povo quem o elegeu, sem obediência ou influência de partidos ou forças políticas. Ele é um fenômeno como político, verdadeira máquina de arrebanhar votos e pôde dispensar todos esses apoios que agora tenta reunir e consolidar. O povo o apoiou, mas na nossa democracia o povo não governa. Estamos longe de um regime que é do povo, para o povo e pelo povo.

Após encontro com a direção do PDT, que lhe prometeu apoio e integração no bloco da governabilidade, o presidente lançou esta pérola de otimismo: ?O mandato da divergência acabou?. Agora, poderá ?construir o mandato da convergência?.

Verdade por enquanto e desde que não com base em premissas que o presidente tem anunciado. Essas premissas resumem-se em um ?acórdão? baseado em programas de governo e idéias, sem partilha de cargos. Enquanto proclama esse objetivo tão sadio, nas suas vizinhanças se digladiam os aliados, a começar pelos próprios petistas que não aceitam a redução do seu papel no governo, o avanço do PMDB ocupando mais ministérios e altos cargos e o comando do Senado, que já ocupam com Renan Calheiros. Para começar o pseudomandato de convergência, os petistas já deixaram claro que não estão dispostos a apoiar a reeleição de Aldo Rebelo, do PCdoB, desejo expresso pelo presidente Lula. Os peemedebistas, baseados no regimento interno da Câmara, que lhes dá o direito à presidência da Casa por constituírem bancada majoritária, também não acenam com desistência.

No caso da presidência da Câmara, o cargo, além de ser importante por suas funções normais, é quase uma vice-presidência da República. Não podemos nos esquecer que o vice eleito de Lula, aliás reeleito, José Alencar, é um homem idoso e que acaba de chegar dos Estados Unidos, onde foi operado de um câncer. Felizmente desceu as escadas do avião lépido e feliz, mas seu histórico de saúde e sua idade não são garantia cabal de que estará sempre à disposição para substituir o presidente, aliás um viajante inveterado. E quem substitui o presidente, na impossibilidade de o vice assumir o cargo, é o presidente da Câmara. Será o PMDB, se for obedecido mandamento do regimento interno da Casa.

Para que o mandato da divergência efetivamente tenha acabado e agora se parta para construir o da convergência ainda há outros óbices, dentre eles a continuidade das investigações dos escândalos que abalaram o conceito do governo e a de seu partido, o PT. Outro é que na ?entourage? de Lula não desponta nenhum sucessor provável e com certeza o PMDB tentará no próximo pleito ter alguém de seus quadros como candidato situacionista à sucessão. O tempo urge. O segundo mandato de Lula terá apenas quatro anos e o governador mineiro já vaticinou: durará só uns dois anos. Depois, será campanha eleitoral.

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