Manaus tem 57 sítios arqueológicos indígenas

Com 57 sítios arqueológicos urbanos já catalogados pelo projeto Amazônia Central
desde 1995, Manaus é um grande cemitério indígena. "O projeto de modernização da
cidade não leva em conta essa herança histórica milenar, mas ela se impõe a cada
grande obra. No momento em que se vai perfurar o solo, surge um sítio
arqueológico", afirmou Carlos Augusto da Silva, coordenador do laboratório de
arqueologia do Museu Amazônico, ligado à Universidade do Amazonas
(UFAM).

O movimento indígena, por meio da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), mobiliza-se para que os sítios
arqueológicos sejam preservados, estudados e abertos à visitação. "A gente
queria que o governo fizesse um trabalho mais profundo, para descobrir que
riquezas são essas, de que povo são, o que representam, há quanto tempo estão
ali", reivindicou Jacimar Gouveia, liderança da etnia cambeba.

O
coordenador do laboratório de arqueologia do Museu Amazônico disse que "hoje não
se sabe ainda a que povos pertencem os vestígios encontrados. Por meio da
análise do carbono 14, comprovamos que há urnas funerárias com mais de 700
anos". Segundo ele, nem o Museu Amazônico nem o Instituto do Patrimônio Histório
e Artístico Nacional (Iphan) têm condições de garantir a preservação desses
sítios. "Hoje alguns deles se conservam por esforço dos próprios proprietários
do terreno onde se localizam."

No ano passado, o Ministério Público
Federal propôs uma ação civil pública pedindo a interrupção das obras de reforma
da Praça Dom Pedro, no centro da capital amazonense, local onde foi identificado
um sítio arqueológico. "A ação pedia a cessação imediata dos trabalhos. E também
a realização de um concurso público para se contratar uma empresa que elaborasse
um projeto de destinação da área que levasse em consideração a presença do
sítio", informou Izabella Brant, procuradora da República. A Justiça, porém,
apenas ordenou que as obras fossem concluídas sob a supervisão de técnicos do
Iphan. "A juíza entendeu que a destinação da praça era prerrogativa do poder
municipal", esclareceu a procuradora. Ela pretende marcar uma reunião
extra-judicial entre a prefeitura, a Coiab e o Iphan. "Com a mudança do
prefeito, talvez haja espaço para um acordo sobre o melhor uso daquele espaço",
argumentou Izabella.

O projeto Amazônia Central é coordenado pelo
antropólogo Eduardo Gosneves, da Universidade de São Paulo (USP), em parceria
com a Universidade do Amazonas (Ufam) e o Instituto do Patrimônio Histório e
Artístico Nacional (Iphan).

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