Lula vira garoto-propaganda da Ambev em Quito

Quito, 25 (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou garoto-propaganda da cervejaria brasileira Ambev durante almoço com empresários equatorianos, hoje, no Palácio de Carondelet, sede do governo. Pouco antes de dizer que o Brasil não pretende ter uma relação de hegemonia sobre outros países da América do Sul nem ser visto como imperialista, Lula insistiu que os empresários não devem ter medo de ser multinacionais nem de fazer parcerias fora de seu território.

“Eu até tomei uma cerveja que a Ambev está produzindo aqui, de boa qualidade. Eu espero que caia no gosto do povo do Equador. Mas também tem outras cervejas que certamente já estão no gosto dos equatorianos. Vocês vão ter que ser muito competitivos”, afirmou.

Lula aproveitou a referência à Ambev para fazer seu discurso preferido: o da defesa dos interesses da América do Sul e de uma nova geografia comercial no mundo. Diante de 200 empresários, o presidente disse estar fazendo do Mercosul uma plataforma para atingir a construção de um espaço econômico e comercial integrado na América do Sul, que caminhe na direção de uma zona de livre comércio em escala continental.

“Nós não queremos ter relação hegemônica. Nós não queremos ser vistos como imperialistas. Queremos ser vistos como parceiros para desenvolver um continente que já foi rico, que já teve muito ouro e muita prata, mas infelizmente levaram tudo”, afirmou Lula, ao comentar que a política de boa vizinhança não pode ser apenas retórica.

“Precisamos nos irmanar pela nossa vontade política, pelo nosso coração e por acreditar que esse continente pode dar um salto de qualidade, como deu a China e a União Européia há 50 anos. Precisamos acreditar em nós.” Apesar de garantir que o Brasil não pretende ter uma relação hegemônica com os vizinhos, o presidente não conseguiu conter o tom de líder dos países sul-americanos em sua conversa com os empresários.

Como se estivesse dando conselhos, disse que os países mais pobres precisam de uma “ação conjunta” e de mais ousadia para mostrar aos ricos que é possível construir “uma nova força econômica”.

“Já me perguntaram se o Brasil queria brigar com os Estados Unidos e eu respondi que não. Não queremos brigar com os EUA nem com os europeus, e os chineses. Queremos apenas estabelecer uma política comercial mais justa. Até quando vamos nos contentar em ser a parte pobre do mundo?”, indagou o presidente.

Lula lembrou que o Brasil mantém uma relação comercial histórica com os EUA e não vai rompê-la. Argumentou, no entanto, que nem por isso é preciso ser favorável à política de subsídios dos países ricos.

“Quero para mim o que os americanos querem para eles. Desejo para as empresas brasileiras o que os americanos desejam para as empresas deles”.

Para não haver mal-entendido, o presidente fez questão de afirmar que não estava “afrontando” os EUA. “Queremos apenas dizer para os americanos e europeus que não concordamos com os subsídios que eles impõem para exportar seus produtos”, argumentou. Pelos seus cálculos, a redução dos subsídios agrícolas representaria US$ 220 bilhões para os países em desenvolvimento.

Dirigindo-se a Gutiérrez, Lula afirmou que o acordo entre o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações (Can) é um “passo importante” para a negociação, até o fim deste ano, com a União Européia. Antes de erguer um brinde ao Equador, ele repetiu que muitas vezes os países não se desenvolvem porque os governantes só pensam em seus mandatos.

“Temos um mandato de quatro anos. O resultado de uma política fiscal dura combinada com a estabilidade correta tem de ser a política social. Se não, amigo Gutiérrez, de que valeu sermos presidente do Brasil e do Equador? De nada adianta o crescimento se ele não traz ganhos efetivos para a qualidade de vida dos mais vulneráveis.” Na noite de terça-feira, durante jantar com Gutiérrez, Lula considerou “inadmissível” que países como o Equador desembolsem 40% de seu orçamento para pagar a dívida externa. Com uma economia dolarizada, o Equador tem usado as receitas obtidas com a venda de petróleo para abater sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), na casa dos US$ 15 bilhões.

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