Lula reúne ministros e responde às críticas

Brasília – Abatido pela interminável crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promove amanhã (19) a última reunião ministerial do ano, no Palácio do Planalto em tom de desagravo ao seu próprio governo. Num pronunciamento de 45 minutos, Lula não fará apenas a tradicional prestação de contas: vai dar uma resposta às críticas da oposição ao reafirmar que o Brasil está no caminho certo e pronto para dar um "salto de qualidade" em 2006, com novo ciclo de crescimento.

Diante de um ministério desfigurado pela crise que abalou a República – e 19 dias depois da cassação do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu -, o presidente reagirá à artilharia dos adversários, para quem o governo acabou. Provável candidato a um segundo mandato, Lula vai exaltar as "realizações" de sua gestão e indicar que não pretende deixar o ano eleitoral de 2006 interferir na administração.

O presidente baterá na tecla de que, apesar das críticas foi o seu governo que conseguiu quitar uma dívida de US$ 15,5 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Dirá, ainda, que as instituições estão funcionando normalmente, mesmo com a turbulência política e com as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) em andamento. Embora o Planalto tenha feito de tudo para impedir que as CPIs dos Correios e dos Bingos invadissem o calendário eleitoral de 2006, Lula afirma que nunca cerceou as investigações.

Arrocho

A reunião ministerial será dividida em dois blocos: na parte da manhã, além de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e "gerente" do governo, falarão os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) – que recentemente se queixou da paralisia administrativa -, Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Ciro Gomes (Integração Nacional). Após o intervalo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, abordará os rumos da economia.

Depois de Palocci, que explicará a necessidade da manter o arrocho, apesar da choradeira dos colegas, será a vez da exposição do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sobre segurança pública e combate à corrupção. Jaques Wagner (Relações Institucionais) analisará a conjuntura política. No seu diagnóstico, a crise está perto do fim.

Flechadas

Lula vai abrir o debate entre os ministros depois do almoço. O presidente quer unificar os discursos e as ações da equipe, consumida pelo fogo amigo. "Estamos recebendo flechadas de todos os lados, inclusive da direção do PT", resumiu um interlocutor de Lula, numa referência às estocadas petistas na direção da política econômica. Na quarta-feira, dois dias depois da reunião ministerial, Lula tem encontro marcado com a nova Executiva Nacional do PT, eleita em setembro. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), descarta a possibilidade de enquadramento. Oficialmente, o encontro é para "discutir a relação" entre o PT e o governo.

Para consumo externo, os governistas também sustentam que as pesquisas do Ibope e do Datafolha – indicando que o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), venceria a eleição no primeiro turno se o adversário fosse Lula – refletem um desgaste momentâneo, mas não definitivo. Na prática, porém, os levantamentos de intenção de voto acenderam o sinal amarelo no Planalto.

Sem a consultoria de marqueteiros, Lula construiu um discurso de defesa do seu governo que já começou a ser "sacado" em solenidades públicas. Daqui para a frente, o presidente vai usar e abusar da retórica de que é vítima do preconceito das elites e do "denuncismo" da oposição. Uma situação muito diferente daquela observada na útima reunião ministerial de 2004 quando apareceu feliz da vida diante do time. Na ocasião, Lula disse que 2005 poderia ser definido como o ano da "colheita" do muito que o governo havia plantado. Só não imaginava que uma poderosa crise bateria à sua porta e que a colheita fosse essa.

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