Lula participa de reunião da Cúpula Iberoamericana

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enfrentar alguns dissabores a partir da noite de amanhã (13), quando desembarca em Salamanca, na Espanha, para participar da XV Reunião de Cúpula Iberoamericana. Seu primeiro constrangimento será o de presidir, na sexta-feira (14), a assinatura de um memorando para a reforma do Palácio de Maldonado, onde será instalada a Fundação Cultural Hispano-brasileira – iniciativa de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, cujo nome está gravado em vermelho na fachada do prédio, do século XVI. Ao iniciar o encontro dos representantes dos outros 22 países iberoamericanos, no Palácio Fonseca, Lula notará a ausência do presidente de Cuba, Fidel Castro, que deverá permanecer em Havana por razões de saúde, e a insistência de seu companheiro Hugo Chávez, da Venezuela, em posar como protagonista da integração da América do Sul.

O presidente Lula ainda terá de mostrar-se disposto a engolir uma espécie de sapo-boi. No Palácio Fonseca, Lula se encontrará obrigatoriamente e várias vezes com seu colega argentino, Néstor Kirchner, que abandonou dois eventos patrocinados pelo governo brasileiro neste ano, em Brasília – as reuniões de cúpula da América do Sul e Países Árabes, em maio, e da Comunidade Sul-americana de Nações (Casa), na semana passada. Desta vez, os assessores de Kirchner não duvidam que o presidente argentino cumprirá a agenda da reunião iberoamericana até o final, apesar das eleições parlamentares de 23 de outubro. Espécie de referendo da administração Kirchner, a campanha eleitoral foi a escusa para seu embarque apressado de Brasília, no último dia 30, antes da abertura oficial do encontro sul-americano.

Mais dissabores devem vir da própria reunião iberoamericana, cuja carência de substância tornou-se principal desafio a ser superado pelo governo espanhol, o patrocinador dessa iniciativa. Criada em 1991, a iberoamericana pode ser resumida como "um encontro à procura de algum conteúdo", como assinalou um experiente embaixador brasileiro. Ou simplemente como um blá-blá-blá anual de chefes de Estado, perda de tempo e justificativa para turismo diplomático.

Em Salamanca, os temas de devaneio serão a realidade e os desafios sócio-econômicos iberoamericanos e a migração entre os 22 países – ou melhor, de cidadãos de 20 deles para Portugal e Espanha. Os chefes de Estado ainda divagarão sobre a projeção internacional da comunidade. Nos debates, a Espanha pretende incluir temas um pouco mais tangíveis, como o cumprimento das Metas do Milênio de redução da pobreza até 2015, os mecanismos financeiros inovadores e os investimentos em infra-estrutura, que são de especial interesse da América Latina.

Como assinalou o jornal ‘El País’, a reunião de cúpula tenderá a ser debilitada pelo fato de haver 12 processos eleitorais em curso na América Latina até o final de 2006. Entre eles, a corrida presidencial no Brasil, na qual o presidente Lula já atua como candidato à reeleição. Pelo menos com uma iniciativa supostamente concreta, o governo espanhol pretende contornar esses desgastes – o início de funcionamento da Secretaria-Geral Iberoamericana (Segib), cuja função seria tão etérea quanto a própria reunião de cúpula anual, mas que gerará novos postos de trabalho para diplomacia.

Com sede em Madri, o Segib terá como titular o ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Enrique Iglesias. A secretária-adjunta será a embaixadora brasileira Maria Elisa Berenguer, e o responsável pela cooperação, o embaixador mexicano Miguel Hakim. Considerada ainda insuficiente por Madri, a Segib deverá ser engordada com a criação do Conselho Econômico e Social Iberoamericano. A proposta será apresentada durante os encontros de sexta e sábado pelo presidente de governo da Espanha, o socialista José Luís Rodríguez Zapatero, a pedido de entidades empresariais e sindicais.

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