Lula não é um boquirroto

Tem muita gente acusando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de boquirroto ao pedir um controle externo do poder judiciário. Em parte têm razão. Só que o que ele diz, muita gente quis dizer e não teve coragem de se expressar. É verdade também que quem falava lembrava mais um candidato do que o atual mandatário da República, mas são nessas horas que se distingue os grandes nomes da política de um país. Quem tem essa coragem de se indignar com a violência que toma conta das grandes cidades merece mais respeito. Mesmo que cometa erros, como o falar demais.

Senão vejamos. O país passa por um momento de guerra civil interna, principalmente no Rio de Janeiro, e para nós parece tudo tão natural. Cada vez mais nos trancamos em casa e temos medo de sair às ruas devido à violência. Não nos sentimos seguros, mas ao mesmo tempo, achamos que o que acontece nos subúrbios cariocas “é assim mesmo”. A verdade é que vamos sendo acostumados a vermos tantas pessoas assassinadas diariamente nos jornais, que acaba parecendo tudo tão normal.

O “erro” do presidente foi ter escancarado um problema que afeta a todo mundo. A justiça é lenta e nem sempre eficiente. Não são só eles (os juízes) que estão errados na atual conjuntura, mas a modernização da máquina que cuida do cumprimento das leis precisa ser melhor gerida. Se não, ficamos com a sensação de que os bandidos estão com a razão ao atearem fogo a um ônibus numa via urbana. “Não acontece nada mesmo”, diriam muitos. É por isso que Lula falou, com uma condecoração no peito e tudo o mais.

Alguns não gostaram, principalmente aqueles que estão vendo suas regalias serem ameaçadas. Mas é assim mesmo, digo eu. É necessário ir mais a fundo no problema. É dolorido, mas não tem outro jeito. Deixamos chegar a esse ponto e agora precisamos começar (por algum lugar) a resolver esse problema. Evidentemente, o poder judiciário é soberano e não deve sofrer interferências externas.

O importante foi a sacudida nos homens togados. Respeitáveis, mas passíveis de cobranças pelos reles contribuintes brasileiros, como o presidente Lula. A justiça precisa se agilizar (para usar um terno mais popular) e começar a mostrar mais serviço. Obstáculos há, difíceis de serem transpostos, mas é preciso encará-los para começarem a serem superados. O uso de ferramentas mais modernas como a informatização, maior transparência nos transcurso dos processos e boa vontade poderiam ajudar a mudar a imagem criada pela própria justiça.

Se a justiça resolver se mexer e chegar mais próxima do que dela espera o cidadão comum já terá sido de grande valia as palavras sopradas pelo presidente. E que Lula venha a público para falar mais. Tem muita coisa que precisa ser dita e, por conseqüência, mudada. Na justiça, no executivo, no legislativo, nas associações, sindicatos, etc.

Rodrigo Sell (esportes@parana-online.com.br) é repórter de Esportes em O Estado

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