Lula enfrenta semana difícil, com Palocci, Okamoto e Dirceu

Brasília (AE) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará a partir de terça-feira (22)uma das semanas mais difíceis de sua administração, desde o início da crise política, que estourou em junho, com a denúncia do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre a existência do mensalão. Desta vez, o atingido não é só o governo, mas o próprio presidente da República, por intermédio de peças que são chave, como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ou que já foram, como o ex-ministro José Dirceu, ou de um amigo íntimo, como Paulo Okamoto, presidente do Sebrae.

Na terça-feira, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos votará o requerimento de convocação do ministro Antonio Palocci. Como a oposição é maioria, o governo não tem mais o que fazer, a não ser apoiar a convocação, acertada na semana passada. "Vamos fazer um acordo. Na negociação está o depoimento do ministro", disse o senador Tião Viana (PT-AC).

Ainda na terça-feira, logo depois da decisão sobre Palocci, a CPI dos Bingos ouve Paulo Okamoto, que além de amigo é contador do presidente Lula. Os parlamentares querem saber quais as circunstâncias que levaram Okamoto a pagar uma dívida de R$ 29 mil de Lula com o PT, pois o presidente da República não reconhece a pendência.

Na quarta-feira, se não houver novo adiamento, o plenário da Câmara vai votar o processo de cassação do mandato do deputado José Dirceu, tido como responsável por todo o esquema montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, que resultou no repasse de verbas indevidas a parlamentares. Dirceu tenta adiar o processo com um recurso na Comissão de Constituição e Justiça contra o Conselho de Ética, sob o argumento de que as testemunhas de defesa foram ouvidas antes das de acusação.

O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), admitiu que a semana é de muita angústia para o governo. Em relação a José Dirceu, Casagrande acha que não há muito mais o que fazer (pesquisa mostra que 55% dos deputados são favoráveis à cassação). Quanto a Palocci, Casagrande afirmou que ainda é possível uma saída, a depender do próprio ministro.

"Palocci terá de administrar a sua situação. Ele tem condições de se sair bem. É só mudar. Ninguém quer que o Palocci saia, mas ninguém quer que ele continue apertando a economia desse jeito." Para Casagrande, o governo já perdeu a grande batalha, que é de se mostrar ético. "O governo perdeu a bandeira ética, se não tiver realizações para mostrar, não terá discurso para o palanque." Ele disse que a base aliada concorda com os argumentos da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de que são necessários maiores investimentos. "Há uma visão clara do nosso partido de que há espaço para afrouxar um pouco sem irresponsabilidade."

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), afirmou que nem o governo nem o presidente Lula têm condições de sair da situação atual. "A cada dia aparece um mal feito novo. A captação de dinheiro que fizeram esses anos todos na busca do poder vaza a cada momento e tem surpreendido até a gente." Para ele, Palocci será mantido no cargo apenas como um símbolo. "A opção eleitoral que já fizeram é no sentido de abrandar o aperto fiscal, reduzir juros, aumentar capacidade de consumo da população. Querem criar uma bolha de euforia e, para isto, têm que ao menos conter o Palocci."

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