Lula e Alckmin dividem partidos por apoio no 2º turno

Os dois seguem o mesmo princípio bélico – dividir o que não puder ser conquistado inteiro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) precisam aumentar seus votos para ganhar o segundo turno e, por isso, correm atrás de apoios de outros partidos. Mas nessa luta encarniçada, nenhum conseguirá o apoio integral de um partido: o PDT deve ficar com Alckmin, mas Lula age para conseguir nacos do partido; o PSB é de Lula, mas Alckmin se mexe para tirar seus pedaços.

A briga maior se dá em torno do PMDB, que abriga uma infinidade de grupos e que emerge das eleições com a maior bancada da Câmara e a segunda do Senado. Mas tudo indica que, com toda sua grandeza numérica, o partido vai ser retalhado entre Lula e Alckmin. Os dois só têm palanques próprios em dois Estados – Rio Grande do Sul e Pará, onde PT e PSDB se enfrentam. Nos outros Estados, buscam aliados, na tentativa de ir além das votações obtidas no primeiro turno e ultrapassar a metade dos votos válidos, com a qual um deles será eleito.

Vaivém

Lula pretende ter a maioria do PMDB, mas anteontem o presidente do partido, deputado Michel Temer, declarou apoio a Alckmin, junto com o ex-governador Anthony Garotinho. No mesmo dia, os deputados eleitos do PMDB-RS definiram que querem apoiar Alckmin embora alguns tenham restrições a ficar com Yeda Crusius, tucana que foi para o segundo turno, porque na campanha ela bateu forte no governador Germano Rigotto (PMDB).

No Estado, onde Alckmin venceu o primeiro turno com quase 23 pontos porcentuais de vantagem, Lula subirá no palanque de Olívio Dutra (PT), que passou para o segundo turno. E ganhou o apoio inesperado do veterano ex-governador Alceu Collares (PDT), um dos derrotados no primeiro turno. No Sul, se Alckmin já alvejou Lula, sangrando uma parte do PMDB, Lula deu o troco para reduzir o apoio do PDT ao tucano.

No Rio de Janeiro, Lula – que venceu as eleições no Estado com 20 pontos de vantagem – conseguiu o apoio do candidato Sérgio Cabral Filho (PMDB), favorito no segundo turno. Alckmin, em troca, foi apoiado pelo ex-governador Anthony Garotinho e pela governadora Rosinha Garotinho, também do PMDB.

Cutucando Aécio

Se no Rio Alckmin facilitou a acomodação de Lula, em Minas sucedeu o contrário. Quando subiu no palanque de Newton Cardoso (PMDB), no primeiro turno, Lula cutucou a vontade política de Aécio, que se aproximou de Alckmin e terminou por lhe dar uma votação muito maior do que se esperava em Minas.

No Paraná, onde Alckmin venceu por 15 pontos, os dois candidatos estaduais gostariam de ter seu apoio no segundo turno. Os tucanos preferem apoiar Osmar Dias (PDT), o que facilitaria o acordo nacional com o PDT. Ontem o prefeito Beto Richa, de Curitiba, coordenador da campanha de Alckmin no Paraná e amigo do governador Roberto Requião (que é do PMDB e tenta a reeleição), anunciou apoio a Dias. Lula se aproxima de Requião, que hesita ante a vantagem de Alckmin no Estado.

Em Santa Catarina, Alckmin tem aliança com Luiz Henrique da Silveira, do PMDB, que disputa a reeleição no segundo turno, tendo como vice Leonel Pavan, do PSDB. No Estado, onde Alckmin ganhou por mais de 23 pontos de diferença, o petista tentou o palanque do outro candidato no segundo turno, o arqui-rival do PT Esperidião Amin, que pediu ‘um tempo’ para pensar em ter o PT ao lado. Mas o PT não está ‘cego’: tem o apoio de parte do PMDB, como o ex-governador Paulo Afonso.

Em São Paulo Alckmin encomendou ao prefeito de São Bernardo do Campo, William Dib (PSB), uma ‘rachadura’ no seu partido, para minimizar o apoio oficial dos socialistas a Lula. No segundo turno do Rio Grande do Norte, Lula vai de Vilma Maia (PSB), enquanto Alckmin quer apoiar Garibaldi Alves (PMDB), que – tanto quanto Requião no Paraná – hesita em aceitar o apoio num Estado em que Lula venceu por 29 pontos.

Em Pernambuco, Lula vai de Eduardo Campos (PSB), seu ex-ministro e Alckmin vai apoiar Mendonça Filho (PFL), com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), seu aliado. No primeiro turno Alckmin perdeu lá por 48 pontos de diferença; sua meta na segunda volta é qualquer resultado um pouco melhor.

O Pará tem confronto PSDB-PT e uma situação atípica: no primeiro turno, Lula venceu Alckmin por 10 pontos: na disputa estadual, o tucano Almir Gabriel (PSDB) venceu Ana Júlia (PT) por 6 pontos. No segundo turno, o cruzamento dessas vitórias será testado para ver quem transfere voto e consegue eleger o aliado.

Em Goiás, onde Alckmin venceu o primeiro turno com 11 pontos de frente, os dois candidatos já têm palanques ‘emprestados’: Alckmin vai subir no de Alcides Rodrigues (PP), vice-governador que assumiu e concorre à reeleição, com a providencial ajuda do ex-governador e agora senador Marconi Perillo (PSDB), que teve uma votação consagradora; Lula vai de Maguito Vilela (PMDB), ligado ao prefeito de Goiânia, Iris Rezende, que ganhou a prefeitura do PT, mas agora apóia Lula.

No Maranhão Lula pode ter um palanque e meio, porque quase certamente terá o apoio de Roseana Sarney (PFL), enquanto o outro candidato no segundo turno, Jackson Lago (PDT) se diz ‘indefinido’: no Estado onde Lula venceu o primeiro turno com quase 57 pontos de folga, ele não quer se vincular apenas a Alckmin e está dizendo a amigos que terá dois comitês – um ‘Lago-Alckmin’ e outro ‘Lago-Lula’.

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