Lula bem, Brasil nem tanto

As pesquisas de opinião pública, quando favoráveis, são elogiadas pelos aprovados. Os desaprovados põem em dúvida sua licitude e insinuam que foram manipuladas. Outras vezes parecem horóscopo. Não dizem nem sim, nem não, muito pelo contrário. Prestam-se às mais variadas interpretações, ao gosto do freguês. Para uns, são boas, para outros, más, para muitos, regulares, e sempre se achará uma interpretação ao agrado do “horoscopado”. Acabam de divulgar uma pesquisa realizada pelo Ibope, sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria, revelando que o presidente Lula conta com a aprovação de 75% dos brasileiros entrevistados. Da pesquisa conclui-se que Lula vai bem, mas o Brasil ainda não.

Por esses 75%, de acordo com a metodologia utilizada pelo instituto pesquisador, o presidente merece, nesses primeiros 90 dias de governo, nota 6,8 num máximo de 10. Não é excelente, mas sem dúvida boa. Cinqüenta e um por cento dos entrevistados deram avaliação ótima ou boa para o governo Lula; 36% consideram-no regular e 7% ruim ou péssimo. Já 13% dos entrevistados desaprovam o governo. Embora positivo, o resultado da pesquisa de certa maneira frustra, pois eleito com tão extraordinária quantia de votos e carregado ao Planalto com enormes esperanças, seria de se esperar que o índice de aprovação com notas ótimo e bom fosse maior. Como o número dos que o consideram regular é grande, conclui-se que Lula de qualquer forma passou neste teste de opinião pública, merecendo aplausos, mas nenhum prêmio de destaque.

Isto porque, enquanto aplaudem ou são condescendentes com Lula, mercê de sua inegável simpatia e evidente seriedade e boa vontade, os entrevistados demonstram apreensão com a inflação, que muitos acham que vai aumentar; com o aumento do desemprego, e que a renda das pessoas vai cair. Pesquisa da CNI/Ibope anterior revelava que 55% acreditavam que a inflação iria aumentar. Hoje já são 61%; 43% acreditavam que o desemprego iria crescer. Hoje são 56%, e subiu de 22% para 29% o número dos que entendem que a renda das pessoas vai cair. Ou o otimismo está diminuindo ou o pessimismo está aumentando.

O motivo parece simples. Lula vai bem, mas o Brasil ainda não. A escusa, aliás válida, é que este governo só tem três meses, tempo insuficiente para melhorar o País. E, cá entre nós, mais do que suficiente para fazê-lo piorar.

Se fôssemos resumir em uma única palavra o que Lula está fazendo no governo, diríamos que é “economia”. Economiza o quanto pode e, provavelmente, perto do que deve economizar para um país com tantas dívidas e tantos problemas. Governar mesmo, nem começou.

Acontece que problemas como o combate à inflação, ao desemprego e o aumento da renda das pessoas exigem medidas como o aumento dos juros, a queda das cotações do dólar em níveis que não prejudiquem as exportações, investimentos na indústria, no comércio e na agricultura. Enfim, desenvolvimento produzido com sintonia fina, mas, de qualquer forma, com dinheiro. Dinheiro que está faltando porque Lula, nesta primeira hora, mandou apertar o cinto. Sua esperança são as reformas, cuja aprovação depende de boas propostas e sua aceitação pela sociedade e pelo Congresso. Para realizá-las é preciso tempo e é difícil acreditar que os prognósticos pessimistas em relação ao emprego e ao aumento de renda revertam em otimismo antes do ano que vem. Quanto à inflação, parece a única batalha que ainda pode ser vencida neste ano.

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