Lufada de reais

O governador Roberto Requião anunciou a antecipação do pagamento do 13.º salário para o funcionalismo. Não mais será no dia 20 de dezembro, e sim no dia 15, o que já é alguma coisa para quem ficou sete anos sem aumentos de vencimentos, tem uma média de ganhos muito pequena e espera poder, pelo menos no período natalino, folgar um pouco. Espera, pois muitos dos servidores, bem como outros trabalhadores que recebem o 13.º, alguns em duas parcelas, parte em novembro e parte em dezembro ou quando entram em férias, utilizam esse dinheirinho extra para pagar as dívidas. O comércio e o sistema financeiro aplaudem, pois será mais dinheiro em circulação, anunciando o aumento dos meios de pagamento. Maior circulação de dinheiro e mercadorias e um sopro na economia. Uma lufada de reais que retarda ou impede um ataque de apnéia na economia. Talvez não na economia do Paraná ou do País, mas na pessoal de muita gente.

As natalinas, ou gratificações pagas por ocasião do Natal, aqui na forma de 13.º salário, ao tempo em que surgem como um desafogo para quem as recebe e para aqueles aos quais são repassadas, viraram uma armadilha para quem a paga. Em tempo de aperto – e os atuais são apertadíssimos – é difícil fazer caixa para pagar esse benefício.

O governo Requião, como explica o secretário da Fazenda, Heron Arzua, apesar da situação difícil herdada, com o Tesouro vazio e dívidas a pagar, fez reservas. A cada mês, um doze avos da parcela da arrecadação destinada ao pagamento do funcionalismo foi reservado, de forma a que, em dezembro, será possível até antecipar em poucos dias o pagamento do benefício. O 13.º deverá injetar cerca de R$ 600 milhões na economia paranaense. Um alívio.

De qualquer forma, fica evidente a fragilidade da economia quando respira aliviada com tão pouco dinheiro e ainda vive, em grande parte, dos proventos de aposentadoria que, embora pequenos, no todo pesam nos cofres do poder público e, em algumas cidades, principalmente no interior do Nordeste, chegam a significar a maior parte do dinheiro mensalmente injetado na economia. O trabalhador, com os proventos ínfimos das aposentadorias, não sobrevive ou apenas sobrevive, muitos em situação de quase miserabilidade. E o País, se não pagar esse dinheiro aos trabalhadores aposentados, pode ver, de repente, a economia fragilizada parar de respirar num ataque de apnéia. E só conseguirá ressuscitar pelo método de suicídio de longo prazo, que é a emissão de dinheiro inflacionário.

Considere-se ainda que a reforma da Previdência, proposta pelo governo que a está conseguindo ver aprovada no Congresso, mais o congelamento do limite de isenção do Imposto de Renda, a obrigatoriedade de contas correntes bancárias onerosas para aposentados e pensionistas e a prorrogação da CPMF fazem com que essas aposentadorias e os salários, inclusive o 13.º, minguem. O trabalhador, seja do serviço público ou da iniciativa privada, ganha cada dia menos e o País fica refém do 13.º e das ínfimas aposentadorias e pensões, para não fenecer.

É hora de buscar-se o desenvolvimento econômico para valer, e sustentado, que melhore os salários, mantenha as gratificações natalinas e melhore os proventos de aposentadorias e pensões, de forma a que sejam benéficos para a economia, mas não tábua de salvação. Remédios milagrosos que põem à mostra a fragilidade de nossa economia.

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