Lucidez acaciana

O governo não brinca em serviço quando se trata de arrecadar impostos e tributos. Recordes continuam sendo quebrados a cada trimestre e, nesse campo, não há motivo de lamúrias por parte do Palácio do Planalto. A arrecadação atual é três vezes maior que a alegada perda de impostos que o governo sofreria sem a aprovação da Medida Provisória 232.

Como se sabe, uma sobra de dinheiro para fazer subir ainda mais o patamar do superávit primário, mas não, necessariamente, para reforçar o avanço dos programas sociais que o governo prometeu e ficou devendo à população mais pobre do País.

Talvez seja esse o lastro da última manifestação do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, quando doutrinou que problemas políticos se resolvem no campo político e problemas econômicos no campo econômico. Uma lucidez acaciana, dir-se-ia nas tertúlias de final de tarde, regadas a finíssimo malte escocês e baforadas de legítimos Cohibas.

Ao que se percebe, e a declaração de Palocci é emblemática, a crise política sequer arranhou as fímbrias da macroeconomia, onde o governo continua desfilando competência tanto no arrocho fiscal quanto no azeitamento da máquina arrecadatória.

Levantamento em valores corrigidos pelo IPCA mostra que a Receita abocanhou, entre janeiro e junho, R$ 7,3 bilhões a mais que no mesmo período em 2004.

Para penetrar a fundo nesse enredo, lembremos a algaravia do governo em defesa da MP 232, sem a qual deixaria de faturar uns R$ 2,5 bilhões. Ora, se desde então – sem a aprovação da medida – arrecadou quantia três vezes superior (R$ 7,3 bilhões), é lícito supor que, na época, o governo foi malicioso e usou meias verdades?

É o que estão pensando muitos líderes de prestígio nos meios da representatividade empresarial, como Guilherme Afif Domingos, dirigente da Frente contra a MP 232, transformada em órgão de combate permanente à implantação de novos impostos.

Pesquisa feita em São Paulo ilustra uma verdade insofismável: 74% da população não conhece o conceito de imposto e só 26% dela sabe que é uma taxa embutida no preço dos produtos que adquire.

Algo muito sério precisa ser feito nesse campo e, com urgência, para frear a ânsia do governo em meter a mão no bolso dos contribuintes.

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