Lições da presença de Lula

A presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, à posse da Diretoria da Itaipu Binacional, em Curitiba, teve vários importantes significados.

Inicialmente, vale realçar o critério altamente seletivo de escolha, que resultou na formação de um colegiado de nível ministerial e aglutinador das principais agremiações políticas que apóiam o governo, a começar pelo diretor-geral Jorge Samek, que consolida posição de liderança no Partido dos Trabalhadores e na própria sociedade paranaense. Seus companheiros de comando são figuras de proa em seus partidos: Nelton Friedrich, Diretor de Coordenação, é presidente do PDT do Paraná e da Fundação Alberto Pasqualini; Rubens Bueno, Diretor Administrativo, é presidente no Paraná e secretário geral nacional do PPS; o Conselheiro Edésio Passos é dirigente histórico do PT do Paraná; a Diretora Financeira, Gleisi Helena Hoffmann, é um dos melhores quadros executivos do PT e integrou a “equipe de transição”. Foram mantidos o renomado advogado Jorge Bonifácio Cabral no Jurídico e o competente engenheiro Otelo Cardoso na Diretoria de Operação.

Afora o prestigiamento pessoal a Jorge Samek, o presidente Lula quis expressar a relevância dos vínculos que unem Brasil e Paraguai na Binacional, e também no âmbito do Mercosul. O governador Roberto Requião igualmente é entusiasta da integração econômica e como Senador presidiu o Grupo Parlamentar das nações do Mercosul. A sinergia de forças de Lula e Requião contribuirá para atingir aceleradamente os alvos estabelecidos.

Liberdade de movimentos sem óbices de fronteira e acesso ao trabalho, livre de restrições; inclusão no currículo escolar do ensino obrigatório do espanhol aqui e do português lá; intensificação do intercâmbio econômico, esportivo, cultural e turístico entre os quatro países; meta futura de moeda única; transferência de conhecimentos científicos, colaboração tecnológica e suporte do BNDES e do Banco do Brasil a projetos de interesse comum são objetivos a serem perseguidos com pertinácia e obstinação.

Outro recado inequívoco implícito no comparecimento do presidente Lula à solenidade diz respeito à preferência de seu governo pela geração hidrelétrica.

O Brasil tem reservas hídricas exponenciais e inconteste exemplo é o futuro complexo hidrelétrico de Belo Monte, no Pará, com potência projetada de 11.181 megawats, energia limpa, poluição zero e, embora exija investimentos financeiros de vulto para concretizar-se, depois de amortizados os compromissos, o custo da energia é mínimo, porque a água vem de graça. De fato, a natureza nos privilegiou, proporcionando-nos enormes vantagens comparativas até em relação aos países do G7. Nosso potencial hidráulico a ser aproveitado alcança a fantástica força de 260 mil MW, segundo estudos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

É hora de recuperar o tempo perdido pela inércia e imprevidência dos últimos 8 anos, que nos levaram ao “apagão”. Nas administrações Lula e Requião, o Sistema Eletrobras, com Furnas, Chesf e Eletronorte, e a estadual Copel voltarão a investir, a despeito das exigências paralizantes do FMI, que precisam ser contornadas ou eliminadas.

Na gestão Jorge Samek, A Usina de Itaipu, iniciada em 1973, faz 30 anos, incorporará o funcionamento das duas últimas turbinas, gerando mais 1.400 megawats de energia, somando 18 turbinas com produção de 14.000 MW, recorde mundial dificilmente superável.

No período Lula, as empresas estatais voltarão a ser verticalizadas, unindo geração, transmissão e distribuição de energia, ainda que o centro de custos apure resultados setorizados e a contabilidade seja feita separadamente. Terá que haver revisão de modelo, enfocando contas de luz do consumidor, tarifa social, tarifa de incentivo a novas indústrias, capacidade financeira do sistema para novos empreendimentos, regras definidas de preço para atrair parcerias com o capital privado, etc.

Com certeza, a atuação do governo federal petista, sob a coordenação do Presidente da República e o pulso firme da ministra Dilma, assegurará auto-suficiência na extração de petróleo, na construção de refinarias para restabelecer independência em derivados e na retomada do planejamento e da ação estatal no setor elétrico, priorizando a fonte hidráulica como matriz energética.

Léo de Almeida Neves é ex-deputado federal, foi diretor do Banco do Brasil e é o autor do livro “Vivência de Fatos Históricos”.

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