Juros escorregam

A taxa básica de juros (Selic) escorregou meio ponto percentual, o que é insuficiente para dizer que caiu, quando estava no segundo patamar mais alto do mundo, 26,5%. Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado em 1979 pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto). Hoje, ela identifica a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com o sistema bancário. Assim, passou a ser a taxa básica a partir da qual se constroem os juros praticados no mercado, que vão sendo acrescentados de uma série de outros componentes, dentre eles a redução das disponibilidades com o recolhimento compulsório de recursos do sistema pelo BC, cobertura do risco de inadimplência, os tributos incidentes sobre as operações, o “spread”, etc…

A queda de apenas meio ponto era esperada. A opinião mais otimista do mercado era de uma queda de um ponto. A justificativa do BC e do governo é que a inflação está domada, permitindo esse pequeno escorregão, que sinalizaria uma lenta queda das taxas de juros. Até o Natal, os juros ficariam de bom tamanho, o que não se sabe exatamente quanto será. Como dissemos, é o segundo mais alto do mundo. A opinião de políticos, inclusive do vice-presidente da República, José Alencar, dos empresários, das centrais sindicais e mesmo de largos grupos de economistas, mesmo os ligados ao PT e a Lula, é que o escorregão de meio ponto foi tímido demais. E entendem que os juros altos não vêm controlando o processo inflacionário e, sim, impossibilitando o crescimento econômico do País. Como conseqüência mais cruel, geram o desemprego.

Esse argumento fundamenta-se no fato de que, em outras oportunidades, elevações substanciais das taxas de juros não provocaram a queda da inflação. Acrescentam que o crescimento econômico se inibe e até está provocando recessão porque a população e as empresas não têm dinheiro à disposição. E isso não se deve só aos juros altos e sim aos elevados impostos e ao aperto que o governo vem praticando, captando o máximo possível e retendo esses recursos.

De qualquer forma, não aconteceram ataques diretos contra o escorregão de meio ponto nos juros porque há esperança de que possa vir a ser o começo de um processo. Como esta decisão do Copom (BC) veio sem viés, ou seja, indicação de futura baixa ou alta, na próxima reunião daquele órgão, no mês que vem, é que será possível ter uma noção mais precisa sobre se esse ínfimo meio ponto significa apenas uma medida para acalmar o mercado ou uma tendência efetiva de baixa.

O governo sustenta que a baixa efetiva das taxas de juros só será possível se o mercado começar a pensar na inflação futura, que entende controlada dentro de metas bem razoáveis, esquecendo a alta inflação passada. E apela ao mercado financeiro para que colabore. E aos bancos estatais, que dêem o exemplo, desde logo praticando juros mais baixos. Aqui, surgem empecilhos. O Banco do Brasil, embora estatal, é uma sociedade anônima de capital aberto e tem de dar satisfações aos seus acionistas minoritários, não podendo trabalhar sem competitividade. E a Caixa Econômica Federal, por seu presidente, já declarou que trabalha com juros menores do que os praticados pelo mercado, mas precisa garantir sua própria solidez.

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