José Dirceu se irrita com a convocação para depor em Santo André

Com ataques ao Ministério Público Estadual de São Paulo e à imprensa, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu respondeu hoje à notícia, divulgada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", de que está convocado a prestar depoimento em 4 de maio no inquérito que investiga denúncias de corrupção na prefeitura de Santo André, em 2002. O petista, que teve seu mandato de deputado federal cassado no ano passado sob acusação de ter chefiado o mensalão, afirmou que não recebeu nenhuma notificação de estar sendo investigado "pelo assassinato de Celso Daniel" e acusou o MP de se exceder, ao fazer uma investigação para a qual não tem poderes.

Dirceu afirmou ainda que o caso é inédito, pois o homicídio é investigado há quatro anos, e a corrupção no município há seis. O MPE supeita que parte dos R$ 100 milhões movimentados foi para o PT e passou por Dirceu. "Hoje, abri o jornal O Estado de S. Paulo e tomei conhecimento – já é a terceira entrevista do promotor público e eu não fui notificado – de que eu estou sendo investigado pela morte de Celso Daniel", afirmou, para uma platéia de estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "É algo inédito. Existem sete réus respondendo a processo, presos pela morte de Celso Daniel. E existe um inquérito policial que concluiu que o crime era comum."

Segundo ele, o caso foi reaberto por imposição da família do prefeito assassinado, "e principalmente da mídia", com "parcela do Ministério Público de São Paulo". Dirceu também defendeu a decisão do ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal, que deu liminar suspendendo as investigações a seu respeito no caso, quando ainda não fora cassado.

"Eu fui acusado por um dos irmãos do Celso Daniel de ter recebido R$ 1,2 milhão do Gilberto Carvalho, que teria dito a ele (Carvalho nega o suposto episódio). O Supremo Tribunal Federal não impediu, pelo foro privilegiado que eu tinha, a ação investigatória do Ministério Público, que me denunciava. O Supremo Tribunal Federal decidiu no mérito, e o Ministério Público não recorreu."

Dirceu também ironizou a atuação do promotor Roberto Wider Filho que, segundo ele, "dá uma grande notícia". "Porque tem que fazer a ligação entre o José Dirceu que recebeu R$ 1,2 milhão, o assassinato de Celso Daniel, o valerioduto", disse. "Então, como o Aristides Junqueira, um advogado que foi procurador geral da República, recebeu, sem saber, evidentemente, um recurso de origem ilegal que supostamente teria vindo das contas do Marcos Valério, ele é meu advogado, portanto tenho que ser investigado. Só que ele nunca foi meu advogado, porque nunca fui processado, o Supremo trancou a ação."O ex-ministro também se queixou da suposta "perseguição" que estaria sofrendo, movida por parte da mídia.

"Todo dia que levanto, eu me pergunto: primeiro me cassaram com ss e agora querem me caçar com ç?", destacou. "Vivi dez anos banido do Brasil. Dez anos eu não tive nacionalidade, eu era um apátrida. Agora, estão fazendo de novo isso comigo, porque não querem me deixar trabalhar. Qualquer atividade minha é suspeita. Não posso dar consultoria, não posso advogar, a minha empresa (José Dirceu e Associados) é de fachada, quando todos nós que prestamos serviços, quando desativamos empresa, colocamos endereços residenciais, evidentemente, não vou pagar um local comercial fechado. Mas transformaram uma empresa que fechei, porque não poderia continuar atuando porque era deputado, em empresa de fachada."

Em tom exaltado, afirmou que "só no período da Oban, do Doi-Codi (órgãos de repressão da ditadura militar) a imprensa brasileira desceu tanto como está descendo neste momento na vida política do Brasil". "Porque a imprensa brasileira apoiou a repressão, a tortura, o assassinato, encobriu as ações dos órgãos de repressão, e não fez autocrítica até hoje disso", atacou.

Governo Lula

Na palestra de 40 minutos no auditório do Centro de Filosofia e Ciência Humanas do campus da UFRJ na Praia Vermelha, Dirceu voltou a se dizer inocente das acusações de ter chefiado o mensalão. Disse ainda que a imprensa brasileira toma partido – "Serra não fez campanha para prefeito, a imprensa o elegeu", afirmou – e acusou a mídia de tentar ajudar a derrubar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"A pretexto de combater a corrupção – e existe muita corrupção na administração pública brasileira – e a pretexto de combater o caixa 2, conseguiu-se fazer uma aliança, soldar um bloco social e um bloco parlamentar para se opor ao governo Lula e para derrubá-lo", declarou, em palestra no seminário "Mídia da Crise ou Crise da Mídia?",promovido pela Escola de Comunicação e pela Rede Universidade Nômade. "Não é fazer impeachment não, é derrubá-lo. Porque eles acreditavam que o Lula ia perder a cabeça, que o Lula ia perder a credibilidade, que o PT ia se dissolver…"

O ex-ministro também afirmou que "o caixa 2 está desmoralizado", quando "o líder do PSDB na Câmara (Juathy Júnior, da Bahia) vota a favor da absolvição do Roberto Brant e diz ` caixa 2 é crime eleitoral punível com multa, caixa 2 não é crime que leve a quebra do decoro parlamentar…" Para ele, por isso a a Câmara não cassou ninguém.

"Vocês acham que a Camara não cassou ninguém por quê? Porque considera que caixa 2 não é crime. Se considerasse, tinha que cassar todos. Aliás, estive em um país dando uma palestra um mês atrás, onde me disseram que todo mundo faz caixa 2 e ninguém toca nesse assunto, porque faz parte da regra da democracia no país."

Apesar de algumas vaias, Dirceu foi muito aplaudido e cumprimentado. Ao sair, não quis dar entrevistas, mas posou para fotos com estudantes, principalmente mulheres.

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