José Dirceu não retira candidatura na chapa do Campo Majoritário

Brasília (AE) – O ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP), decidiu comprar a briga e não vai se retirar da chapa do Campo Majoritário que concorrerá ao Diretório Nacional do PT. Na queda-de-braço, o presidente interino do PT, Tarso Genro, manteve o ultimato: garantiu que desistirá de disputar o comando do partido, na eleição marcada para 18 de setembro, se Dirceu não sair da chapa. O prazo estabelecido por Tarso vence amanhã.

"É uma vilania o que ele está fazendo comigo", afirmou Dirceu. "Uma covardia." O ex-ministro disse que seu colega de partido apelou para o "pré-julgamento" de sua conduta. "Se me tiram do PT, como vou defender o meu mandato?", perguntou, com os olhos marejados. "Nem na Câmara fizeram isso comigo."

Presidente do PT de 1995 a 2002 e fiador das alianças que levaram Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, Dirceu enfrenta processo de cassação na Câmara por quebra de decoro parlamentar. É acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o mentor do esquema do ‘mensalão’.

Na noite de hoje, emissários de Lula ainda tentavam convencer Dirceu a renunciar. Um deles era o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que, a exemplo de Lula, defende Tarso. "Não adianta. O circo está armado. Não sou homem de aceitar ultimatos", respondeu Dirceu. "Essa eleição no PT acontece em hora muito ruim", admitiu o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner. Se Tarso cumprir a promessa de desistir da disputa, o Campo Majoritário deverá lançar o deputado Ricardo Berzoini (SP), atual secretário-geral do PT, como candidato à presidência do partido.

Faca no pescoço – Na prática, a queda-de-braço entre Dirceu e Tarso ameaça a hegemonia do Campo Majoritário, que hoje detém 60% das 81 cadeiras do Diretório Nacional. Mas o grupo moderado também integrado por Lula não corre apenas o risco de perder a eleição direta, com voto dos filiados, em setembro. A vitória de qualquer candidato da chamada esquerda petista será uma faca no pescoço do governo. Hoje há sete postulantes à presidência – cinco de esquerda.

Nenhum dos concorrentes dessas facções aceita a política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Estão bem posicionados na disputa interna o economista Plínio de Arruda Sampaio e o jornalista Valter Pomar.

"É reducionismo achar que a disputa do PT é entre um bando de puros e de bandidos. Eu não sou bandido", afirmou o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT). "O que está em jogo não é o PT e a crise. É o governo."

Dirceu insiste em que Tarso também não defende um programa moderado e representa um racha no Campo Majoritário. Motivo: ex-ministro da Educação, ele já fez duras críticas à política econômica e disse que Lula não deveria se candidatar à reeleição. Além disso, Tarso – oriundo de uma tendência de "centro" no espectro ideológico, denominada Movimento PT – já decretou a morte do grupo de Dirceu ao dizer que o Campo Majoritário acabou. "O problema não sou eu. O problema é que o programa defendido pelo Tarso não é o nosso", argumentou Dirceu. "Ele quer outra política econômica, outras alianças, acha que o governo acabou e é contra a reeleição do Lula. O Campo Majoritário concorda com isso? O Palocci concorda com isso?", questionou.

O ex-chefe da Casa Civil nega que esteja trabalhando para manter o seu poder no partido. "Estou é cuidando da minha defesa".

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