Itamaraty afasta indicados políticos das embaixadas

Por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os políticos estão sendo afastados das Embaixadas do Brasil. Munido de carta-branca para fazer girar a ciranda de postos do Itamaraty no exterior, o chanceler Celso Amorim pretende indicar cada vez mais embaixadores "juniores" para as representações brasileiras. "O presidente Lula estabeleceu uma política de total confiança nos quadros formados pelo Itamaraty", comemora o chanceler.

Antes mesmo da reeleição, Amorim começou a ceifar os políticos dos quadros do Itamaraty e fazer suas indicações. Em outubro, escudado na decisão do presidente, telefonou para Lisboa para informar ao embaixador do Brasil em Portugal, o ex-deputado Paes de Andrade, de sua substituição. Detalhe: Paes de Andrade é presidente de honra do partido a que o próprio Amorim é filiado, o PMDB.

Dias depois, o secretário-geral das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, pediu que Paes de Andrade encaminhasse ao governo português o pedido de agrément (autorização) para seu sucessor, Celso Marcos Vieira de Sousa, diplomata de carreira. Revoltado, o ex-deputado se recusou.

Aliado antigo de Lula, Paes de Andrade sentiu-se ofendido por ter sido "demitido" pelo chanceler, sem nenhuma palavra do presidente, que o havia acomodado na Quinta de Milflores em agosto de 2003.

O dilema levou o gabinete de Amorim a recorrer a uma via alternativa para submeter o pedido de agrément ao governo português: entregou os papéis ao embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, que os remeteu a Lisboa. Com muito gosto, Portugal concedeu o agrément a Vieira de Sousa na última quarta-feira e assistiu com satisfação ao fim – mesmo que temporário – da ocupação de políticos na Embaixada do Brasil.

O primeiro político ceifado por Amorim fora o ex-presidente Itamar Franco, que deixou a Embaixada do Brasil em Roma em agosto de 2005, sendo substituído pelo diplomata Adhemar Bahadian.

No fim do ano, o ex-deputado petista Tilden Santiago deixará a Embaixada em Havana, para a qual havia sido designado depois de sua derrota na disputa ao Senado de 2002. A vaga será ocupada pelo experiente embaixador Bernardo Pericás, antes representante do Brasil na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), em Montevidéu.

Progressivamente, Amorim deve designar diplomatas inexperientes na condução de postos no exterior para embaixadas de peso na política externa. Trata-se de um meio de rejuvenescer o comando desses cargos, mas também de impedir os vôos autônomos dos mais experientes e de centralizar em Brasília as decisões.

O primeiro sinal dessa tendência surgiu em maio de 2004, quando Mauro Vieira, então chefe de gabinete de Amorim, assumiu a Embaixada brasileira em Buenos Aires.

O sinal definitivo ocorreu em outubro, com a remessa a Washington do pedido de agrément a Antônio Patriota, subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty, que deve substituir o veterano Roberto Abdenur na principal Embaixada do Brasil.

O agrément ainda não saiu. No início de 2007, Amorim deve se decidir sobre outras posições – as embaixadas em Moscou, Paris, Londres e nas Nações Unidas (ONU) – e tende a escalar novos titulares.

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