Israel teme acusações de crimes de guerra

Três semanas depois do cessar-fogo imposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) que paralisou o conflito de 34 dias entre Israel e o grupo guerrilheiro libanês Hezbollah, o governo israelense mostra-se cada vez mais apreensivo com a possibilidade de autoridades civis e oficiais do Exército em viagens ao exterior serem acusados de crimes de guerra por ações militares no Líbano, admitiram hoje funcionários israelenses.

Uma fonte no Ministério das Relações Exteriores de Israel revelou que uma equipe de advogados está se preparando para dar proteção legal a autoridades civis e militares envolvidas no conflito. Mais de 850 libaneses morreram na guerra, civis em sua imensa maioria. O grupo de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) acusou Israel de crimes de guerra, inclusive por ataques desproporcionais e indiscriminados contra alvos civis.

Israel alega que suas ações foram legais e acusou os guerrilheiros de se esconderem entre civis no Líbano e de atacarem deliberadamente civis israelenses com disparos de foguetes. O conflito deixou 159 israelenses mortos, a maior parte militares. Disparos de foguete do Hezbollah contra o norte de Israel mataram 39 civis. A AI também denunciou os ataques do Hezbollah contra alvos civis.

Sob condição de anonimato, a fonte na chancelaria israelense disse que a equipe de defesa é mantida pelo governo para ajudar autoridades civis e militares que eventualmente correm o risco de serem presas em viagens ao exterior. A equipe jurídica, que conta com advogados dos ministérios da Justiça e da Defesa, foi criada há alguns anos para lidar com acusações referentes às ações militares promovidas por Israel contra os palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

A fonte diplomática não quis comentar uma reportagem do jornal Haaretz segundo a qual a chancelaria teria pedido às principais autoridades israelenses que não fizessem declarações inflamatórias que pudessem ser usadas contra elas em eventuais processos. Os temores israelenses são baseados em experiências recentes.

No ano passado, ao desembarcar em Londres, Doron Almog, um general da reserva que comandou soldados israelenses em Gaza, foi alertado por um diplomata do Estado judeu que seria preso caso desembarcasse.

Almog era procurado pela justiça britânica por causa de um bombardeio contra Gaza que provocou a morte de 15 pessoas, entre elas nove crianças. Almog permaneceu no avião e retornou a Israel.

Em 2001, o então primeiro-ministro Ariel Sharon foi processado na Bélgica por sua responsabilidade no massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila em 1982, quando Israel invadiu o Líbano. Diversos oficiais do Exército israelense também foram alvo de processos no exterior por causa de denúncias apresentadas contra eles. Entretanto, nenhum dos casos progrediu.

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