IGP-M, calculado pela FGV, fecha em -0,65%

Pela quarta vez consecutiva, o Índice Geral de Preços- Mercado (IGP-M) fechou o mês em deflação. A taxa em agosto, divulgada, nesta terça-feira, foi de -0,65%, ante – 0,34% em julho.

O resultado ficou abaixo das estimativas do mercado financeiro e foi o menor resultado em mais de dois anos, desde junho de 2003 (-1%), provocado pela queda de preços no atacado, no varejo e na construção civil. "A deflação foi praticamente generalizada no IGP-M (de agosto)", afirmou o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

Com este resultado, o IGP-M acumula taxa de 0,75% no ano e de 3,43% nos últimos 12 meses – a menor taxa acumulada desde janeiro de 1999. "Isso é uma boa notícia para o consumidor", disse, lembrando que a taxa de 12 meses do índice serve como indexador para vários preços administrados. "E ainda há espaço para reduzir mais", acrescentou.

Na prática, a taxa acumulada em 12 meses até agosto ainda inclui resultados acima de 1%, dos últimos meses de 2004. Nos próximos meses, estas taxas saem do acumulado e deverão entrar outras mais baixas. "Já vi previsões de analistas dizendo que o IGP-M pode fechar o ano abaixo de 3%", afirmou.

Para o economista da Fecomércio-RJ, João Carlos Gomes, o IGP-M caminha para fechar o ano abaixo de 2%. Na avaliação de Gomes, isso sinalizaria "um desempenho positivo para 2006 e o início de um ciclo virtuoso, com inflação baixa e queda nos juros".

No último levantamento, o período de coleta de preços do indicador, que serve como indexador para reajustes em contratos de aluguel, foi do dia 21 de julho a 20 de agosto. As projeções do IGP-M para agosto estavam entre -0,62% a -0,45%. O economista da FGV não excluiu a possibilidade de uma quinta deflação consecutiva, em setembro.

"Não está descartada a possibilidade. Até mesmo porque parecia que não havia espaço (para uma quarta deflação), mas surgiram outros fatores", afirmou. Porém, a possibilidade de que as quedas sucessivas no indicador possam ser consideradas sinais de recessão foi descartada pelo economista. Outros indicadores macroeconômicos, como os de produção industrial, apresentam sinais positivos, segundo ele.

Em agosto, os preços do atacado caíram 0,88% ante queda de 0,65% em julho. O atacado é o setor de maior peso na formação do IGP-M e foi influenciado principalmente por fatores setoriais na avaliação de Quadros. "O câmbio, que influenciou mais as três deflações anteriores, perdeu força na deflação de agosto", explicou o economista, lembrando que a valorização do Real ante o dólar puxou para baixo os preços de vários produtos relacionados à moeda norte-americana.

Entre os fatores setoriais que reduziram a inflação no atacado estão as quedas de preços em ferro, aço e derivados (-2 76%); em combustíveis e lubrificantes (-0,13%) e em produtos agrícolas de peso, como soja (-1,77%); arroz em casca (-2,97%) e bovinos (-1,04%). No caso do setor siderúrgico, foi a queda mais intensa de toda a história dos IGPs calculados pela FGV.

"Esse setor continua influenciado por estoques elevados, o que derruba os preços, além de quedas de preço no mercado internacional", disse Quadros.

No varejo, os preços caíram 0,32% em agosto, ante alta de 0,12% em julho – a deflação mais intensa desde setembro de 1998. Houve recuos expressivos nas variações de preços de alimentação (de -0,67% para -1,34%); e de habitação (de 0,70% para 0,11%).

Para o economista da FGV, André Braz, os preços ao consumidor podem continuar em queda. "O atacado mostra espaços para mais desaceleração no varejo. A possibilidade de continuar no nível atual é grande", afirmou, lembrando que as quedas registradas no atacado, atualmente, podem ser repassadas para os preços ao consumidor no futuro.

A FGV informou ainda que os preços no setor Construção Civil passaram de alta de 0,65% em julho para elevação de apenas 0,05% em agosto, graças a recuos em materiais e serviços (de 0 17% para 0,09%) e mão-de-obra (de 1,20% para variação zero), de julho para agosto. (Colaboraram Célia Froufe e Francisco Carlos de Assis).

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