Ideário olímpico e o espírito educativo

Após dois períodos olímpicos de espera, a Grécia, berço das Olimpíadas, recebe o reconhecimento dos membros do Comitê Olímpico Internacional e de toda a humanidade, com a escolha de Atenas como sede dos Jogos Olímpicos de 2004. Se, em 1896, a capital da Grécia fora escolhida, também como reconhecimento, desta feita, inaugura-se o terceiro milênio olímpico com a Grécia novamente na vanguarda.

Nós, gregos, os 11 milhões que na Grécia vivem e os 7 milhões que se encontram na diáspora e vieram fincar suas âncoras em todos os rincões do planeta, nos orgulhamos deste fato, pois, mais uma vez, vem representar o preito de admiração dos seres humanos, pelas idéias de nossos antepassados. O mais importante aspecto desta singularidade está no espírito educativo grego, ou seja, na Paidéia, que une o desenvolvimento da política e da literatura com o ideal atlético. Daí, por que as Olimpíadas terem um significado ímpar para todos os gregos. O exemplo ainda prevalece. E não foi sem sentido que o Barão Pierre de Coubertin encontrava, nesta disputa entre povos, uma forma de dirimir as diferenças políticas, assim como os gregos na velha Hélade o faziam para um período de trégua – a pax helênica – Iríni – entre as saus Cidades-Estado.

Os Jogos Pan-Helênicos, festivais dedicados aos deuses, que ocupavam os gregos periodicamente, eram disputados em Olímpia com a denominação de Jogos Olímpicos, dedicados a Zeus; em Delphos, os Jogos Píticos, dedicados a Apolo; ambos, a cada quatro anos. Os Jogos Nemeus na Neméia – Argólida, homenageando Hércules e os Jogos Ístimicos em Corinto, dedicados ao herói Milikertes, mais tarde substituído por Poséidon, a cada dois anos. Os atletas que vinham de todos os pontos da Grécia disputavam as modalidades individualmente, nunca em conjunto. Geograficamente, só os Jogos Délphicos estavam situados fora da Península do Peloponeso.

Entretanto, observa-se que as modalidades esportivas vêm aumentando de ano para ano. Abandonam-se, em parte, o estádio e o ginásio para disputar todas as formas de peleja que venham a provar e a demonstrar as habilidades e a força dos atletas. Na Grécia Clássica, os jogos eram disputados, a princípio, por atletas do sexo masculino. As mulheres passaram a ter autorização para participar dos jogos em olimpíadas dedicadas à deusa Hera, que, por este fato, levaram a denominação de Jogos Heréos, onde participavam apenas atletas virgens. O papel de juiz, inclusive era exercido por mulheres.

Nas Olimpíadas Clássicas, iniciadas em 776 a.C. e interrompidas em 393 d.C. pelo imperador de Bizâncio Theodósio I, havia apenas as seguintes modalidades de disputas: 1) corrida de carros (Quadriga), que inaugurava os jogos e alinhava até 40 carros, estes em forma de triângulo, percorrendo cerca de 12 voltas pela pista do hipódromo, em total aproximado de 15 quilômetros, disputa efetivada com carros puxados por 2 ou 4 cavalos; 2) corridas a pé (Dromos); 3) a dupla (Doólixos); 4) corrida com armas (Oplitodromía); 5) a luta (Pálit); 6) o pugilato (Plígmi), 7) o panccrácio (Pankrátion), que unia a luta e o pugilato; 8) o pentátlon (Pentátlion) que correspondia a cinco provas: salto, corrida, luta, lançamento de disco e o pugilato.

As olimpíadas também contavam com concursos literários. A mais destacada das obras desta disputa intectual foram os famosos Epnícios de Pindaro, que, em odes triunfantes, homenageavam os vencedores. Estes, no final dos jogos, eram coroados com o galardão olímpico, a coroa constituída por ramos de oliveira sem frutos. Retornando às suas cidades, os vitoriosos eram reverenciados como heróis. E por onde passavam lhes eram oferecida a Dáphni (o louro).

No momento só nos resta dizer, dentro da emocionalidade grega que nos é peculiar, que nos sentimos orgulhosos de ter inventado também esta forma de paz entre os homens, acreditando que, na disputa com ética, se possa educar o indivíduo com humanismo. Como gregos, herdeiros de uma cultura milenar, almejamos que, pelos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, o mundo se torne menos beligerante, e que, no preparo destes próximos anos, o primeiro ano olímpico do novo milênio seja o divisor de águas entre o belicismo e a harmonia do espírito, e que a paz mundial venha a prevalecer entre os seres humanos.

Nota: Dia 11 de junho de 2003, durante abertura dos 51.º Jogos Universitários Brasileiros, em Curitiba, foi doada a Bandeira Olímpica à Confederação Brasileira de Desportos Universitários. A solenidade contou com a liderança do Grupo Folclórico Grego Neolea do Paraná e participação de grupos foclóricos das várias etnias que compõem o mosaico étnico do Estado do Paraná.

Constantino Comninos

é professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e cônsul honorário da Grécia, em Curitiba.

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