“Houve interferência política na compra da CRT”, diz Dantas

O banqueiro Daniel Dantas deu como exemplo de interferência política na gestão dos interesses dos fundos de pensão na Brasil Telecom a compra da Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações (CRT) pela empresa, em 2000. Segundo ele, a concessionária gaúcha foi adquirida por US$ 800 milhões pela Brasil Telecom, quando seu valor deveria ser entre US$ 550 e US$ 600 milhões.

Ele disse que, durante a negociação, foi pressionado pelo Ministério das Comunicações e pelos fundos de pensão a fechar o negócio com sobrepreço. Dantas contou também que, no início das negociações para compra da operadora gaúcha, a Brasil Telecom chegou a oferecer US$ 730 milhões, mas que, devido a prejuízos e insuficiência de ativos da CRT, o mercado apontava para uma diminuição desse preço em cerca de US$ 150 milhões. A CRT pertencia à espanhola Telefônica, e a Anatel ameaçava que, se a negociação não fosse fechada, poderia intervir na empresa ou até cassar a concessão.

Dantas disse que durante a negociação com a espanhola, o Opportunity foi surpreendido pela sua sócia na Brasil Telecom, a Telecom Itália, que comunicou, em 2000, que havia fechado um contrato com a Telefônica na Europa para compra da CRT por US$ 850 milhões. "Eu disse: De jeito nenhum! Nunca concordaremos com esse preço!", lembrou.

Foi então que, segundo Dantas, começaram as pressões dos fundos de pensão para aquisição da CRT nas condições estabelecidas pela Telecom Itália, "que eram em excesso e não faziam sentido". O banqueiro disse que continuou recusando a compra e, então, passou a ser pressionado pelo Ministério das Comunicações, então ocupado por Pimenta da Veiga (PSDB). "Resistimos, e a Anatel interveio", relembrou. Segundo ele, as pressões continuaram, e o negócio teve de ser fechado por US$ 800 milhões, em uma reunião realizada numa sexta-feira à noite, na Anatel.

Nesta reunião, segundo relatou Dantas, os fundos de pensão exigiram que ele saísse das negociações. "Nós éramos a única força resistindo ao sobrepreço", afirmou. "No fim das contas, foi possível tirar apenas US$ 50 milhões, e a CRT foi adquirida por US$ 800 milhões quando, no nosso entendimento, valia entre US$ 550 e US$ 600 milhões". A principal pressão, segundo ele, veio da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

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