Hortas: o que se ganha com elas

Nestes tempos de múltiplas dificuldades, em que os salários, que se têm mantido (pelo menos, até agora) a curta distância do congelamento, não conseguem suportar a carga das despesas básicas de parcela significativa dos brasileiros, as hortas caseiras poderiam aliviar o peso dos orçamentos familiares. Desta forma, se todos os quintais forem bem aproveitados, e se os pequenos térreos que margeiam as casas (inclusive, no caso de apartamentos, os pedaços de terra existentes nas sacadas, vasos e jardinagens) também forem cultivados, fornecerão substancial contribuição às rendas das famílias, o que se considera um aumento geral de salários dado pela terra generosa. Além disto (quem sabe?), a maioria das famílias poderia produzir mais do que consome – produção excedente a ser capitalizada.

Já os que se encontram em melhor situação financeira investirão na poupança o dinheiro correspondente aos gêneros alimentícios deixados de comprar em vista da produção de suas hortas, deste modo auxiliando a economia pessoal e do próprio País. Seguindo o raciocínio, esta poupança passa a ser uma reserva de recursos disponíveis em casos de emergência e em tempos de “vacas magras” -um seguro garantido sem o pagamento de quaisquer prêmios.

Em tudo e por tudo, as hortas têm grande utilidade: elas têm o condão de desenvolver confiança, tornando-nos melhor preparados para cuidar de nossas próprias dificuldades e reforçando a autoconfiança. O cultivo de hortas, sendo um auxílio considerável para a família, é também importante para as crianças, que aprendem a amar e valorizar o trabalho. Por isso, pela educação e salutar convivência dos pais com seus filhos – a par das vantagens para a economia doméstica -, terá valido a pena o tempo investido no contato com a terra na preparação e manutenção das hortas. Essa atitude (não só ela, é claro) será essencial para o estado de perfeita satisfação de todos, ou melhor, para o bem-estar geral das famílias. Com as hortas, parceiras autênticas e amigas fiéis das famílias, não existe risco de perda de tempo ou de outros contratempos a lamentar.

Efetivamente, precisamos achar formas de socorrer nosso orçamento doméstico, seriamente comprometido pela incompatibilidade do arrocho salarial que se tem verificado nos últimos anos e a liberdade de preços. O que fazer então? Qual a mágica que está ao alcance de todos – dos técnicos e da população? De nossa parte, a colaboração, a idéia – que não é nova – é voltarmos à esquecida e desprezada horta caseira, modo pelo qual se pode economizar preciosos reais. Nos pequenos terrenos atrás ou ao lado das casas, nos quintais, recorda-se o cultivo da terra e a colheita de frutas, verduras e legumes. Evocado o procedimento de antanho, será possível reduzir o custo de vista dos que aderirem à sugestão. Naturalmente, para a felicidade de todos, a inflação também recebe seus benefícios. Para começar, é o que se ganha com as hortas, mas, não apenas isto…

Entretanto, de que mais precisamos para que nos motivemos, para que passemos da intenção para a prática? nada mais falta do que a belíssima e gratificante experiência da colheita do fruto do trabalho consagrado às hortas. E a família, as crianças e a sociedade não esquecerão o belo gesto de amor e civismo, que será retribuído em dobro pela longanimidade que brota da terra.

Bráulio José Simões

é escritor.

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