Horário de verão: O complicado é regular o relógio biológico

Todo ano é a mesma coisa: amado por uns e odiado por outros, vem aí mais um horário de verão. É o 22.º ano consecutivo que isso acontece no Brasil. Criado para melhor aproveitar a luz natural e, com isso, diminuir o consumo de energia elétrica, o horário é adotado em mais de trinta países, entre eles, os Estados Unidos e a Rússia, por exemplo. Muitas vezes o resultado da economia não parece ser tão significativo, no entanto, que as mudanças interferem na saúde e bem-estar de muita gente, isso interferem.

Afinal de contas, toda pessoa tem o seu relógio biológico, uma ordem temporal interna que determina, entre outras coisas, os horários em que sentimos fome ou a hora em que devemos dormir ou despertar. Sem contar os ritmos que se repetem em outros intervalos, como o ciclo menstrual, por exemplo. “Dá para entender por que essa horinha de diferença causa estragos sensíveis no nosso organismo”, observa a neurologista do Hospital Vita, Flávia Follador, especialista em distúrbios do sono, salientando que é por isso que muitas pessoas custam a se acostumar com o novo ritmo.

De acordo com a médica, é comum nos primeiros dias do novo horário que as pessoas apresentem quadros de déficit de atenção e sonolência diurna. Isso pode trazer riscos no trânsito e em algumas atividades diárias que exijam concentração, além de alguns desconfortos matinais causados pelo fato de não dormirem bem“, admite.

Desordem interna

Esses ritmos biológicos precisam estar afinados como uma orquestra para nos proporcionar uma plena condição de saúde. “Em nosso sistema nervoso existem glândulas que avisam ao corpo que horas são. Elas se ajustam ao ambiente por meio do ciclo claro/escuro ou pelas atividades regulares que fazem parte da nossa vida”, explica o biólogo Ivo Hartmann, da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

Desregular esse tempo biológico faz com que o cérebro seja obrigado a produzir outras reações para se reprogramar, e elas não surgem de imediato. “Assim como o organismo não está preparado para dormir de dia, também não está adaptado para acordar no escuro da madrugada”, frisa o biólogo.

Os especialistas comentam que o relógio biológico tem uma certa maleabilidade, de forma que a maioria das pessoas tolera mudanças eventuais nos horários de dormir, se alimentar e trabalhar, desde que sejam por períodos curtos. Essa desordem pode ser facilmente observada entre os estudantes que acordam cedo para irem para a escola. Conforme a vice-diretora da escola Omar Sabbag, de Curitiba, Margarida Franco, na primeira semana é que se notam as maiores dificuldades. “Já estamos preparados para ouvir justificativas por atrasos nesse período”, admite, reconhecendo que cada estudante tem reações individuais perante essa situação.

Flávia Follador ressalta que é assim mesmo: cada organismo tem um tempo próprio para se adaptar. Muitas pessoas podem levar uma semana para que o organismo se adapte, outras mais tempo. “Os idosos, por exemplo, sofrem mais, pois estão mais acostumados a seguir horários mais rígidos”, observa. Para facilitar a adaptação, a médica dá algumas dicas: evite bebidas alcoólicas ou estimulantes durante a noite; além de manter uma alimentação leve no período noturno. A médica avisa que, mesmo que não sinta sono, a pessoa deve ir para a cama no horário do relógio. “Se ela conseguir relaxar, o organismo se acostumará mais facilmente”, completa.

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