Hora dos emergentes

Esta quarta-feira está reservada para os chefes de governo dos países integrantes do G5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) ocuparem a cena no encontro de cúpula das economias mais ricas do planeta (G8), realizado na cidade japonesa de Rusutsu. A abordagem requerida por antecipação dos referidos governantes continua sendo o aquecimento global, com a ressalva de que cada um dos países de economia em franco processo de desenvolvimento deverá enfocar as providências que está assumindo com vistas ao corte da emissão de gases causadores do efeito estufa.

Em relação específica ao Brasil, o presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, cobrou do governo brasileiro no debate de anteontem, a garantia definitiva de que a produção do bioetanol não embute riscos incontornáveis para a produção agrícola de alimentos e, sobretudo, para a preservação da floresta amazônica. O discurso do ex-primeiro-ministro português volta a comprimir a tecla recorrente na discussão sobre o aquecimento global, tendo em vista a importância essencial da maior extensão de mata nativa do planeta para a manutenção do equilíbrio ecológico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decerto vai repetir hoje diante dos principais dirigentes do G8 os tópicos mais incisivos da política de seu governo quanto à Amazônia Legal, de modo especial sobre a extensão ainda coberta por florestas numa área geograficamente dividida em nove estados. Dentre eles, Lula vai reforçar a tese já discutida em várias oportunidades dentro e fora do Brasil, que a produção de bioetanol a partir da opção adotada pelo País de utilizar a cana-de-açúcar, não tem o peso que alguns críticos do projeto insistem em apontar como prejuízos à produção de alimentos básicos. Dirá também que a utilização de terras na Amazônia para a produção rural estará subordinada a um rigoroso zoneamento a ser instituído pelo governo, num esforço conjunto dos Ministérios da Agricultura, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e instituições públicas e privadas regionais.

Por outro lado, como contrapartida os dirigentes do G5 pretendem pressionar os governos dos países industrializados, dentre os quais se inserem alguns dos maiores poluidores mundiais, a assumir como compromisso obrigatório a diminuição da emissão dos gases do efeito estufa, com resultados concretos já mensuráveis à altura do ano 2020. Trata-se, na verdade, duma discussão com ângulos diversos e fortes divergências quanto às providências capazes de conter o avanço das transformações observadas no clima mundial, algumas delas ocasionando prejuízos de monta em inúmeras nações.

Durão Barroso, na qualidade de presidente da Comissão Européia é membro pleno do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá e Rússia) que por esse motivo é integrado por nove participantes. É preciso reconhecer que apesar dos obstáculos, ele tem sido inflexível na defesa de atitudes corajosas dos países industrializados quanto à necessidade de reduzir mediante ?compromisso ambicioso e significativo?, a emissão de gases poluidores. Segundo o dirigente da CE, os países ricos deveriam dar o exemplo e diminuir num intervalo de 60% a 80%, até 2050, sua ?contribuição? para a escalada do efeito estufa. Tal medida, pelo menos por enquanto, tem no governo dos Estados Unidos seu mais intransigente adversário.

Caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha a felicidade de apresentar argumentos convincentes aos dirigentes do G8, num posicionamento claramente amparado por recentes análises da conjuntura do setor energético, a produção do bioetanol a partir da cana-de-açúcar, como ambiciona com justiça o Brasil, tem tudo para ser reconhecida como alternativa adequada no enfrentamento da crise mundial da produção de petróleo. A tarefa de Lula, no entanto, é extremamente difícil tal a variedade das opiniões divergentes e interesses econômicos contrariados. 

Voltar ao topo