Hora de demolir

Louvável, sob todos os aspectos, a convicção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto à necessidade de apurar todas as suspeitas de corrupção em empresas estatais e, sobretudo, nas relações do governo com a base de sustentação no Congresso Nacional. Infelizmente, voltamos a viver num clima de suspense em tudo prejudicial ao desenvolvimento do tão reclamado projeto de país.

Em seu programa semanal de rádio, Lula afirmou que é seu desejo ver no Brasil uma campanha de moralização da vida pública da envergadura da Operação Mãos Limpas, desencadeada há alguns na Itália, com a finalidade de extirpar a corrupção que lá grassava em intensidade similar à brasileira.

O presidente da República está revestido do pleno direito institucional de reclamar a providência, e mais, desfruta de competência inalienável, a que em decorrência da natureza do cargo se deposita sobre sua pessoa, de exigir das instituições a ele subordinadas – Procuradoria Geral da República, Advocacia Geral da União e Polícia Federal – que apurem a verdade em suas últimas conseqüências.

Além disso, deve o presidente Lula interagir, num momento crítico como o atual, com os presidentes do Supremo Tribunal Federal, Senado e Câmara dos Deputados, além de setores representativos da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de Imprensa e demais organizações pautadas por princípios éticos, para a cruzada definitiva contra a corrupção.

O pior que pode ocorrer a Lula é isolar-se numa torre de marfim – tentação que assola os governantes – invocando uma inerrância, cujos efeitos serão mais corrosivos que a perversidade de quadros até então etiquetados com a marca da confiabilidade. Tem razão o presidente ao clamar pelo desmonte da estrutura que ameaça atirar seu governo à vala comum da safadeza.

É difícil arriscar um prognóstico da extensão do que sabia o presidente sobre as denúncias de corrupção na máquina política federal, antes do estardalhaço dos últimos dias. Importa agora, todavia, não apenas ser solidário a Lula, mas empenhar-se em transmitir a ele a compreensão de que não haverá clemência para os que deixam de cumprir o dever.

A conjuntura requer homens firmes e atitudes coerentes. Aliás, o ex-metalúrgico pressentiu o problema e enunciou a disposição de cortar na própria carne. Eis a questão.

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