Herói ou vilão?

Foi cassado o mandato do deputado federal e presidente do PTB Roberto Jefferson. A Câmara dos Deputados o fez, afastando de seu convívio um parlamentar com 23 anos de mandato, orador eloqüente, líder inconteste e reconhecido vivaldino. Mas Jefferson é cassado sem que lhe desejem o inferno que é reservado aos maus, pois embora pertencesse ao grupo de políticos sem muitos pudores, foi capaz, na derradeira hora, de cavar a sua própria cova denunciando com destemor toda a podridão que existe tanto no Poder Executivo quanto no Legislativo.

Poderia, como fizeram outros de seus pares, ao se ver sujeito à cassação, renunciar ao mandato e, dentro de menos de dois anos, estaria de volta a Brasília, como parlamentar. Preferiu o ato heróico da denúncia à renúncia, que a nossa legislação premia com o direito da elegibilidade. O eleitorado em geral não se apercebe de que os políticos que estão em vias de cassação e renunciam o fazem para enganá-lo de novo, sem purgar oito anos de ostracismo, como manda a lei em caso de perda do mandato. Uma clara confissão de culpa que deveria inexistir e, se alguma vergonha tiverem os nossos deputados, deve ser expurgada da nossa legislação. Se renuncia, vai para casa e cumpre o ostracismo de oito anos e pronto!

De alguma forma, a atuação derradeira de Roberto Jefferson lembra o soro antiofídico ou outro veneno com o qual se produz a vacina da cura. Ele destilou veneno. Mas desmascarou o PT, de alguma forma o próprio Lula, os partidos aliados que foram comprados, os deputados que se aboletaram com o mensalão e foi adiante, batendo de frente com malandros de grosso calibre. Desnudou a política brasileira, evidenciando as contradições do nosso sistema partidário e eleitoral e despindo de sua hipocrisia os que se apresentavam como vestais. Mostrou-os nus do comportamento ético que pretendiam fosse a sua bandeira, mas que ficou comprovado inexistir quando entra o dinheiro fácil e os favores distribuídos perdulariamente. E é dinheiro fácil e perdulária a distribuição de favores porque o que se gasta são os recursos do povo.

Se fosse possível, e as circunstâncias isso não permitiriam, pois é certo que Jefferson feriu a ética parlamentar, ele deveria é ser efusivamente aplaudido por toda a nação. Deu-se ao sacrifício, entregou o seu mandato parlamentar de tantos anos, mas provocou essa cassação nem tanto pelos erros que cometeu, mas pelo acerto de denunciar as negociatas que se faziam e são ainda feitas no governo moralista, progressista e social que o povo elegeu com tantas esperanças.

Jefferson nos faz pensar se, ao agir desabridamente contra a corrupção generalizada no governo, nos partidos e na Câmara, não mereceria mil anos de perdão. Ele desmascarou os corruptos, preferindo essa posição corajosa a procurar livrar-se da cassação e garantir a continuidade de sua já longa vida pública. Foi-se Roberto Jefferson e o povo espera que o próximo seja Severino. E a limpa não fique por aí, pois ainda há muita gente a ser defenestrada para que se higienize o ambiente político brasileiro. E, depois, que se construa uma legislação e um sistema político vacinados contra esse bando de malandros que domina os poderes da República.

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