Herança dos antigos trabalhistas

No começo de minha vida política no antigo Partido Trabalhista Brasileiro, tive oportunidade de manter estreita convivência com homens públicos de excepcionais virtudes cívicas, como Souza Naves e Anônio Anibelli.

Souza Naves, antigo presidente do PTB do Paraná e vice-presidente nacional, elegeu-se Senador em 1958 e havia consenso de que ele era imbatível para o Palácio Iguaçu em 1960, mas morreu de enfarte dia 12 de dezembro de 1959, quando era homenageado na Sociedade Morgenau, em Curitiba.

Abilon de Souza Naves ocupou como primeiro titular a Secretaria do Trabalho e Assistência, criada pelo Bento no seu primeiro ano de mandato em 1951. Souza Naves teve como chefe de Gabinete Peres Kreitchman, funcionário de alto nível, com especialização nos Estados Unidos, que muito contribuiu para a implementação da novel secretaria. O advogado José Maria de Azevedo exerceu importante cargo de confiança e eu colaborei como oficial de gabinete.

Implantada a Secretaria do Trabalho e Assistência Social, Souza Naves passou a exercer cargos no governo Getúlio Vargas, com destaque para a presidência do Instituto de Pensão e Aposentadoria dos Servidores do Estado (Ipase), com sede no Rio de Janeiro, então capital da República, onde pôde dedicar-se melhor às tarefas de vice-presidente nacional do PTB.

Com Souza Naves atuando no âmbito federal, o deputado estadual Antônio Anibelli fazia a cobertura das atividades políticas trabalhistas, a nível do Paraná. Anibelli era orador desenvolto e flamejante, que empolgava nos comícios, corriqueiros na época, e também despertava atenção nas tribunas legislativas, sendo característica sua forte gesticulação e movimentos acentuados de corpo. Era impossível não ouvir os discursos do Anibelli, mesmo porque ele discorria sobre assuntos sérios e de interesse público.

Sua principal bandeira era a defesa dos milhares de posseiros da região Sudoeste do Paraná, que estavam sendo espoliados por duas colonizadoras, que se julgavam donas das terras, já adquiridas e pagas pelos agricultores. Os conflitos eram violentos com ocorrência de tiroteios e mortes.

No início do governo Juscelino Kubitschek, Anibelli me indicou através da Comissão Executiva do PTB para presidir o recém-criado Instituto Nacional de Imigração e Colonização (Inic). Nessa época, a direção partidária é quem aprovava nomes para exercer cargos públicos.

Os deputados estaduais e federais, pelo menos no PTB, não podiam fazer indicações diretas ao governador ou ao presidente da República e tinham que submeter-se ao crivo do partido, bem diferente do que ocorre atualmente em que os partidos não existem, a não ser para disputar eleição.

Meu nome foi levado ao presidente da República, mas Juscelino já tinha compromissos com um político gaúcho do Partido de Representação Popular (PRP), liderado por Plinio Salgado, chefe do antigo Partido Integralista.

O problema das terras do Sudoeste do Paraná só viria a resolver-se no governo João Goulart, em sintonia com o governador Ney Braga, com a criação do Getsop (Grupo Executivo das Terras do Sudoeste do Paraná), cujo jovem gestor foi o engenheiro Deny Schwartz, mais tarde Secretário de Estado e ministro dos Transportes, no governo José Sarney.

O deputado Antônio Anibelli como vice-presidente do PTB ajudou a estruturar o Partido em todo o Estado, e teve decisiva participação no apoio às medidas administrativas dos governos Bento Munhoz da Rocha Neto e Ney Braga. No período intermediário, governo Moisés Lupion (1956 a 1960), Anibelli como todo o PTB ficou em vigilante oposição.

Antônio Anibelli presidiu a Assembléia Legislativa e nessa condição ocupou a chefia do Executivo Estadual, de 3 de abril a 1.º de maio de 1955, desde a renúncia do Bento para assumir o Ministério da Agricultura do governo Café Filho até a posse do governador Adolfo de Oliveira Franco, eleito indiretamente pela Assembléia para cumprir mandato tampão, já que naquela ocasião não havia cargo de vice-governador.

Antônio Anibelli em 1945 foi Prefeito de Clevelândia, apoiado pelo seu sogro Manoel Lustoza Martins e, depois, sucessivamente deputado estadual 1950, 1954 e 1958 e deputado federal em 1962 pelo PTB e em 1966 e 1970 pelo MDB.

Antônio Martins Anibelli prosseguiu a carreira do pai, também com brilhantismo, e se elegeu deputado federal pelo MDB em 1974, reeleito em 1978. No pleito seguinte, em 1982, Anibelli elegeu-se deputado estadual pelo MDB, e concorreu vitoriosamente nos pleitos seguintes, obtendo em 1998 a 5.ª eleição sucessiva.

Fato único na política paranaense é que juntos, o pai Antônio Anibelli (falecido em 1997) e o filho Antonio Martins Anibelli somam 52 anos de mandato eletivo ininterrupto.

As vitórias de Antônio Martins Anibelli, candidato novamente a deputado estadual pelo PMDB, se devem ao seu obstinado trabalho parlamentar em prol dos municípios que representa na Assembléia Legislativa e, também, pela defesa intransigente dos interesses do Paraná em causas fundamentais como a luta pela não privatização da Copel. O deputado estadual Antônio Martins Anibelli, que cultua sempre a memória do ex-presidente Getúlio Vargas, João Goulart e Souza Naves, sem dúvida é o último herdeiro das lideranças do antigo PTB.

Léo de Almeida Neves

é suplente de senador pelo Paraná, ex-deputado federal e ex-diretor da Creai do Banco do Brasil.

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