Guichê de tramóias

O turbilhão armado por Roberto Jefferson, há duas semanas atormentando a vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do ministro José Dirceu e deputados federais do PP e PL, especialmente, atingiu na terça-feira e ontem seu maior grau de emotividade. Não porque tivesse apresentado alguma novidade não esboçada antes, mas pelo fato de não ter incluído nas denúncias, como temia o mercado, a figura presidencial.

Teatral e performático, como interpretam vários analistas, Jefferson repetiu à exaustão tudo o que já havia declarado nas entrevistas anteriores, ou nos recados transmitidos por meio de colegas de bancada. O grande vilão é ninguém menos que José Dirceu, o principal articulador do governo, sobrando dardos para José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira, expressivos nomes do diretório nacional do PT.

O Paraná ganhou sua cota particular com a menção do deputado José Janene (PP), em cujo apartamento seria feito o repasse do mensalão de R$ 30 mil aos componentes da respectiva bancada e, ainda, com a exoneração do diretor de administração e finanças da Embratur, Emerson Palmieri, a quem Jefferson classificou de ?tesoureiro informal do PTB?.

Outro membro do Congresso Nacional em situação vexatória, diretamente apontado por Jefferson como beneficiário do mensalão, é o presidente nacional do PL, deputado Valdemar da Costa Neto (SP). ?Vossa excelência recebe?, foi a afirmação fria e categórica do depoente ante uma platéia magnetizada.

Ofensas pessoais à parte, ameaças de abertura de processos na Justiça e informações que aos poucos se cruzam e riscam os primeiros traços do desenho que pode desnudar – mais uma vez – o monstrengo que todos queríamos ver extirpado do nosso meio, o Congresso volta a viver o conhecido clima de confronto de interesses feridos ou contrariados.

Nas entranhas da prática política dos partidos sempre houve espaço para o nefando comércio de votos e o aluguel das siglas. As denúncias feitas agora pouco acrescentam ao que se sabia de antemão. Fica provado, no entanto, não haver barreiras suficientes para conter o ímpeto da corrupção e, tampouco, a blandícia de alguns que transformam o mandato popular, reconhecimento inigualável concedido a um cidadão, num guichê de tramóias.

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