Gratidão aos educadores e formadores de cidadãos

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor não morrerá jamais.” (Rubem Alves)

Há diferença entre professor e educador? Com certeza. Ser professor é exercer uma função técnica; ser educador vai além. A base do compromisso educacional é o fim e não o meio. Os tempos atuais exigem bem mais que o saber, exigem que levemos o aluno a pensar, a analisar, a comparar, a contextualizar, a superar preconceitos, a buscar soluções para os problemas que afetam a sociedade. Enfim, ser educador é condição para podermos formar bons cidadãos. Para tornar isto possível, é necessário transformar de professores da Instituição em educadores. O professor/educador precisa, além de ser democrático e cooperativo na sua relação com os alunos, que sua práxis seja vivida a partir de uma congruência entre o que pensa com o que diz e faz. Assim, a condição de professor-educador também se aprende e se constrói.

E que é ensinar? Não pode e nem deve ser somente prover os alunos de conhecimento de modo mais ou menos adequado e interessante. Ensinar é, sobretudo, educar para a realização pessoal e profissional do aluno, integrado em uma sociedade, que clama por cidadãos justos, tolerantes, generosos e solidários. Para o professor/educador é um constante desafio o educar para o cidadania. Hoje, mais do que nunca, dada a conjuntura da sociedade atual e a crise de valores em que vivemos, cumpre-nos proclamar bem alto que não é suficiente apenas repassar fatos e números, e nem habilitar os alunos para o uso de novas tecnologias. O educador tem de ser o elemento que ajuda a abrir perspectivas, que desperta o potencial, que possibilita a concretização dos sonhos, e que não esquece de imprimir indelevelmente nos corações a mensagem dos valores que constituem o fundamento da sociedade. Este é o educador necessário para hoje.

O educador constrói, habita um mundo em que a interioridade faz diferença, em que as pessoas se definem por suas visões e utopias, amor e esperanças. Ser educador é muito mais do que ser professor. Na PUCPR, somos educadores com um perfil específico: educadores, católicos e maristas. Esta tríplice dimensão ilumina a caminhada. Se a função do professor é orientar o aluno na aprendizagem, a melhor das aulas nada vale, se o aluno não aprende. Falo do professor como estimulador da construção do conhecimento. Conhecimento não apenas como sinônimo de garantia de conduta ética, de cidadania. Pois não é suficiente trabalhar apenas o conhecimento. Precisamos de professores educadores que ajudem o aluno a desenvolver e a assimilar a sabedoria; que estejam convencidos de que mais importante do que encher cabeças é importante formar cabeças. E sabedoria não é uma cabeça cheia, mas uma cabeça bem formada, que sabe discernir o bem, o belo, a verdade, a justiça e a solidariedade. O conhecimento atinge o intelecto e a sabedoria, o coração.

Estou eu a falar de educação, convencido de que, numa escola, todos são e devem ser educadores, desde o professor e o diretor, até o laboratorista e a zeladora. Todos, sem exceção, contribuem para a formação das novas gerações por suas palavras, atitudes e exemplos de vida. Aliás, São Francisco Gárate, grande educador em Bilbao, Espanha, foi porteiro da Universidade de Deusto durante 40 anos – um exemplo admirável para todos nós. Só quem realmente ama o que faz consegue fazê-lo bem feito. Gratidão a todos os professores e funcionários que, por um, 10, 20, 30, 35 ou mais anos, têm construído sobre rocha, sobre valores sólidos e contribuído, efetivamente, para o cumprimento da missão de educar. Assim, o educador não morrerá jamais!

Clemente Ivo Juliatto

é reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e integrante da Academia Paranaense de Letras.

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